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    Crónica da Corrida do Emigrante: “Qual o espanto?!”


    Tendo em conta o adiantado da hora, e a proximidade daquela a que depois já teria que dar início a um novo dia, mal recolheu o sexto toiro abandonei o recinto da Praça de Toiros do Campo Pequeno.

    Já tinha visto que bastasse. E estava quase convencida, do pouco entendimento que tenho e do retorno que tinha sentido por parte do público, de que o prémio em disputa para a melhor pega estaria entregue mas poderia sempre confirmar isso posteriormente, junto de terceiros.

    Contudo, não tardou que me chegasse a notícia. Tinha havido bronca, o prémio não tinha sido entregue a quem se esperava e uma vez mais se tinha aberto a Porta Grande.

    Aqui entre nós: Superfluidades! Mas o suficiente para que se despoletasse, uma vez mais, a contestação, primeiro em praça e depois, principalmente nas redes sociais, vinda muitas vezes até por parte dos que nem os pés meteram na praça.

    Mas pergunto eu: E qual o espanto? Não era para estarmos já habituados?!

    Tenho-me esquivado a comentar e a opinar directamente sobre a falta de critério que por vezes se tem vivido em Lisboa. Aplaudo a ideia de que se tem que fazer de cada corrida um acontecimento, por vezes conseguido, mas também por vezes forçado e sem nexo.

    Ele são Portas Grandes que se abrem por “dá lá aquela palha”, mesmo que se tenha visto mais de tudo, menos de toureio; ele são ganaderos que dão voltas à arena após a lide de toiros (menos) mansos; ele são faenas partilhadas como quem está de tentadero; ele são voltas à praça à boleia uns dos outros... Ele é tanta coisa, que quase poderíamos estar a falar de uma qualquer outra praça do nosso País, porque infelizmente, não há ruedo onde não haja um títere qualquer. Mas a verdade, é que isto tudo tem mesmo acontecido na mais séria e importante Praça do nosso País, a do Campo Pequeno.

    Ontem foi só mais uma noite…

    E aquilo com que mais nos devemos preocupar, perante a Festa que temos actualmente, não é quem levou o bibelot ou quem saiu pela Porta Grande, porque tanto uma coisa como outra, tornaram-se tão banais e sem critério, que valem o que valem. Devemos sim preocupar-nos com o que foi feito na arena, e nisso, verdade seja dita, a verdadeira emoção daquela corrida foi mesmo imposta pelos 3 Grupos de Forcados em Praça.

    Lidaram-se reses de David Ribeiro Telles, díspares de apresentação e comportamento, reservados e de pouca transmissão no geral, sendo bom o terceiro e muito bom o quinto, animal pronto, que se arrancou por várias vezes ao cite do cavaleiro. Contudo até aqui houve “troca”, pois o que garantiu volta ao maioral (o terceiro), não foi o que realmente a justificava.

    Nas lides equestres, houve variedade e espectacularidade para muitos gostos mas por vezes faltou…a verdade!

    Rui Fernandes abriu a noite frente a um toiro de 594 kg que careceu de transmissão e força, com uma actuação, onde a falta de clareza nas intenções das sortes consentiu algumas passagens em falso. Tentou manter ligação ao oponente com o toureio a duas pistas, ainda que a rês se mostrasse pouco voluntariosa a essa condição. Cumpriu com a ferragem e agradou ao conclave com a pirueta na cara da rês com que rematou a sorte.

    No seu segundo, um toiro com 547 kg, de pouca cara e voluntarioso, Fernandes manteve a predisposição e a entrega em praça. Irregular nos compridos, nos curtos embalou o público com as lambadas a que a montada se permite, aguentando a investida da rês, para depois cravar os ferros com quiebros que nem sempre foram de reuniões ajustadas. Ainda assim, foi sonora nas bancadas a actuação do cavaleiro, a quem exigiram um palmito de boa nota.

    Filipe Gonçalves teve pela frente como primeiro do seu lote, um toiro em tipo murube, de 645 kg, badanudo, alto, de pouca força e que foi reservado. O cavaleiro procurou desde início mantê-lo ligado ao ’Chanel’ com os ladeios ajustados, que ainda assim lhe valeram um toque. Mas veio a pagar nos curtos a tardia investida do toiro, o que levou a algumas passagens em falso e ferros aliviadotes, ainda que em tom cumpridor.

    No que foi quinto da noite, um toiro com 552 kg, a pedir toureio de verdade, que teve transmissão, raça, mobilidade e que se arrancou por várias vezes e de vários terrenos, Filipe Gonçalves citou de largo, insistindo nos quiebros, nem sempre ajustados, e após os quais se recortou nos remates. Com o ‘Chique’ e as suas palmas, garantiu a ovação das bancadas e rematou com um ferro violino.

    Francisco Palha teve como primeiro oponente, um toiro com 592 kg, que saiu com pata e frente ao qual cumpriu na ferragem comprida. Nos curtos, e montando o ‘Roncalito’, teve intenção de um toureio mais clássico mas sem raramente vencer o pitón esquerdo ao toiro, pelo que nem sempre pôde haver consenso no momento da jurisdição. Citou de largo, ao qual o toiro correspondeu de boa vontade arrancando-se mas desfez a sorte. Consentiu deixar-se apanhar pelo toiro, codicioso mas de pouca força, e a actuação veio a menos.

    No que fechou a corrida, feio de tipo, com 594 kg, córnea larga, a sair distraído, Francisco Palha voltou a fazer uso do ‘Roncalito’ numa actuação inconstante, com algumas passagens em falso e alguns ferros falhados.  

    Nas pegas, abriu a noite e pelos Amadores do Montijo, o forcado Hélio Lopes que depois de citar calmamente, reuniu à barbela com decisão, numa viagem sem problemas até tábuas onde o Grupo conseguiu efectivar à primeira. Já o quarto toiro, e desta fardação, foi pegado correctamente por José Pedro à segunda tentativa, depois de num primeiro intento o toiro ter ensarilhado, sem o forcado ter hipótese de reunir.

    Pelo A.V. Alcochete, o cabo Marcelo Lóia mandou vir o toiro, fechando-se à córnea e a aguentar a tentativa de o despejar, quase que lhe perdendo as mãos, mas valendo-se dos méritos de bom forcado para se manter na cara do toiro e concretizar à primeira; e Diogo Amaro que aguentou praticamente sozinho a investida enraçada do oponente até tábuas, mas que os derrotes o fizeram sair, e por decisão do próprio, como do seu cabo, entendeu repetir proeza igual. Pisou terrenos de compromisso a citar o toiro, que se arrancou com pata, derrotando e desviando a rota, até que o Grupo efectiva-se. Técnica à parte, até porque deixo isso para os jurados e para os entendedores, mas esta pega levantou a praça. 

    Ao ponto de que, após a costumeira volta à arena, lhe exigiu o público outra, à qual o cavaleiro de turno também aproveitou. Contudo, o público reclamou que a mesma seria apenas dedicada ao forcado, pelo que cumprida meia praça, ambos regressaram ao centro para agradecer novamente, e só após o cavaleiro regressar à trincheira, foi então exigida nova volta completa a Diogo Amaro. Pelo que, este forcado cumpriu com 2 voltas e meia!

    Pelos Amadores de S. Manços, o cabo João Fortunato recuou na investida do toiro, até reunir com decisão quase ‘nos braços’ do seu Grupo que coeso, consumou à primeira; e Jorge Veladas que reuniu bem de braços e pernas, depois do toiro lhe ter partido com alegria, e efectivando uma grande pega à primeira tentativa.

    No final, e como já referi, entendeu o júri, composto pelos antigos forcados e cabos, António Alfacinha e Amorim Ribeiro Lopes, assim como pelo Real Grupo Tauromáquico Português, atribuir o prémio de Melhor Pega à efectivada pelo experiente Hélio Lopes, dos Amadores do Montijo.

    Se me permitem os 'ortodoxos', e sem querer ofender ninguém, mas terá sido tão válido o forcado do Montijo ter vencido o prémio mesmo sem ter efectuado a pega que mais nos emocionou, quanto o forcado de Alcochete ter saído pela Porta Grande, mesmo sem ter dados as 3 voltas completas à arena. Ou dizendo de outra forma: se um não merecia...

    Dirigiu a corrida, o sr. Tiago Tavares, assessorado pelo veterinário Jorge Moreira da Silva, numa corrida que logrou o registo de menos de meia casa de público.

    E posto isto, que mais posso eu mais dizer que não seja do conhecimento do aficionado, que em matéria de toiros, forcados e cavalos, discute sempre, embora muitas vezes não tenham conhecimento de uma coisa nem de outra. Todos sabem de toiros em Portugal, e se eles sabem de tudo, quem sou eu para lhes dizer algo de novo?

    Só não percebo, o porquê de tanto espanto… É que há muito que se perdeu o critério e a seriedade...







    Por: Patrícia Sardinha