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    Crónica de Moura -'Onde vais? Aos Toiros!!! De onde vens? Dos toiros.'



    Diz o popular dito, com raízes em terras de nuestros hermanos, 'A dónde vas? A los toros!!! De dónde vienes? De los toros.', reflexo da emoção e expectativa com que tantas tardes se augura a apoteose, e o desespero e desânimo pela desilusão e frustração sentida no final.

    Afinal de contas, se pára o toiro, pára a Festa... E em Moura a noite foi atípica e sensaborona.

    A José Almeida abria tardiamente a suas portas nesta temporada 2017. 
    Com um atraso de trinta minutos (anunciada para as 22h no cartaz mas na praça, e já com a mesma bastante preenchida, foi feito o aviso que seria às 22h30), romperam as cortesias com um elenco interessante e que levou até à aficionada praça de Moura uma grande moldura humana, com três quartas partes bem preenchidas das bancadas. 
    Moura é praça importante e com força no alentejo, principalmente esta data pelas Festas de Nossa Senhora do Carmo, havendo em boa hora acordo para que a mesma não ficasse encerrada durante a temporada. 


    Noite de Concurso de Ganadarias: São como os melões, são... A bravura é um mistério, sim... A noite foi longa e desesperante? Pois.


    O toiro que abriu praça ostentava o ferro da ganadaria Santiago
    Colorado olho de perdiz, bragado meano, com quatro anos e 510Kg. 
    Foi um toiro informal e com vários estados, algo malvisto, terminando com conduta de manso. Tranqueava bem nas viagens, mas poucas vezes teve vontade de fazê-lo, e quando queria, a escassez de força limitava-o. Andou perdido por vários terrenos e nunca foi recto e verdadeiro nas investidas. 
    António Ribeiro Telles não acertou com os compridos, e nos curtos, só o terceiro, a sesgo, é digno de registo, numa actuação esforçada mas sem selo, muito condicionada pelas características do seu oponente. 
    Na pega manteve a conduta incerta e revelou-se algo cobarde para o jovem Francisco Faria, que à quarta tentativa consumou. 


    O segundo toiro da noite era pertencente à ganadaria Calejo Pires. 
    Toiro negro, meano, com quatro anos e 460Kg. Baixo,  muito sério de cara e bem armado, notando-se falta de remate nos quartos traseiros. Prontificou-se melhor de início, mostrando-se apto e a apontar virtudes, mas rapidamente se dissipou tudo, revelando-se um manso com mais génio que casta. 
    Luís Rouxinol não se acoplou às directrizes do animal, que nas reuniões não se empregava e tardava a partir, soltando derrotes mais bruscos sempre que sentia poder chegar às montadas, sempre à defensiva, comprometendo o labor do toureiro.
     Correcto nos compridos, o primeiro curto foi de boa nota, harmónico e vencendo bem o pitón ao toiro. Montando o Átila revelou alguma inconsistência, e o toiro nunca outorgou facilidades, tendo acabado inglória e sem história a sua actuação.  
    Os erros pagam-se caros, e foi o que aconteceu a João Caeiro do Real de Moura, principalmente na primeira tentativa. Citou sem mando e pouco confiado, partiu brusco para o toiro e ao carregar a sorte adiantou-se procurando a investida, tendo o toiro derrotado de forma brutal e com impacto. À segunda, e ainda com alguma falta de precisão na reunião, voltou a ser despejado, e apenas à terceira, mais seguro e correcto, consumou. 


    O toiro de Pinto Barreiros acusou 520Kg na báscula. 
    Toiro bem feito, algo tigrado, negro listão, foi um manso desinteressado e sem querer luta, distraído e raspando com frequência. Não encontrava motivação nas montadas, sem vontade e sem fundo para poder romper.
    João Ribeiro Telles não encontrou matéria para luzir-se, e apesar do inglório esforço, apenas os compridos são dignos de apontamento, não havendo mais nenhum ponto de interesse na sua primeira prestação, que nesta altura, e à semelhança dos seus companheiros de cartel, também ela muito condicionada pelo jogo do toiro. 
    A Márcio Francisco, do Grupo de Vila Franca, coube o Pinto Barreiros. 
    Forcado curtido, com escola, notam-se as maneiras e o gosto no cite. O toiro esteve sempre com ele, vindo recto na viagem e metendo bem a cara na reunião, com o forcado a recuar e fechar-se bem para consumar com mérito no primeiro encontro. 


    A abrir a segunda metade esteve o toiro de Lampreia.
    Animal bonito, sério, com 540Kg e cinco anos de idade. Negro listão, axiblanco, salpicado e bragado meano. Inicialmente andou distraído e reservado, mas revelou-se um toiro agradecido, moldável aos requisitos do toureiro e que cresceu com a boas maneiras do trato que lhe foi dado. Apesar de várias vezes indiferente, foi aos poucos ganhando franqueza e ritmo nas viagens, principalmente após os ferros, empregando-se com som e chispa. 
    António Ribeiro Telles valeu-se da sabedoria e adaptou-se às suas condições, acertando no tratamento, tempos, espaço e terreno que lhe deu, sempre ligado e metido com ele. 
    Contudo, não houve transcendência no momento da cravagem, cumprindo com a ferragem da ordem mas nem sempre com o aprumo pretendido.
    Rui Branquinho, pelo grupo da casa, reuniu com um pitón entre as pernas e aguentou-se como pode para concretizar com mérito à segunda, com o toiro a rodar e a fugir ao grupo, dando brilho e emoção à sorte. 


    O toiro de Monte Cadema  saiu em quinto lugar, e desta vez o ditado não diria que havia quinto mau, mas sim quinto péssimo.
    Toiro comprido, com esqueleto, 605Kg, um badano largo e com pouca cara, algo atacado de quilos. 
    Saiu sempre pronto e brusco para o capote, exigente e sempre com mau estilo, com um derrote inesperado e impossível de antever. Não quis ver o cavalo, e manteve-se nos médios parado, sem andar e complicando o labor de Rouxinol. Mostrou-se listo e com sentido, agravando esses sintomas na pega, e ignorou todas as abordagens do cavaleiro. 
    Luís Rouxinol porfiou para dar-lhe volta, mas não houve correspondência alguma. A toiro parado deixou dois violinos que agradaram ao conclave, tentando dar ao toiro o que ele não tinha e fazê-lo querer naquilo que ele não queria. No computo geral, e abordando as duas actuações, azar no lote e esforço inglório e sem retorno de Luís Rouxinol. 
    Na pega aconteceu o que se esperava e que era previsto pelo comportamento do animal. Os Amadores de Vila Franca decidiram tentar a sorte de cernelha, mas após vários minutos sem iniciativa, tentou a pega de cara. Tentativas duras, com o toiro a derrotar com tudo, muito poder e força, não estivesse ele inteiro. Momentos de sobressalto e ânimos exaltados nestes momentos, serenados quando o cabo, Ricardo Castelo, pegou no barrete e foi para o toiro, tendo ainda sofrido na pele a dureza e poder do animal para poder consumir, naquilo a que se pode apelidar de uma sopa de corno à antiga...


    O toiro de Guiomar Cortes Moura, lidado em último lugar, acabou por ser o menos manso dos seis a Concurso. 
    Negro zaíno, com 620Kg, saiu sempre pronto e com franqueza, com ritmo q.b. mas com alguma falta de alegria na investida, bem como de mais raça e chispa no momento da cravagem. Moveu-se com facilidade e teve o movimento que faltou aos restantes.
    João Ribeiro Telles não conseguiu acoplar-se totalmente a um toiro nobre e que não apresentava entraves para com ele se triunfar, começando bem nos compridos, mas com irregularidade nos curtos. Procurou a câmbio dar sentido à sua lide mas nem sempre foi acertada a sua decisão, ora por falta de toiro no embroque, ora por falta de frontalidade no desenho das sortes, sem que toiro e toureiro conseguissem comunhão. O último curto foi o que resultou visivelmente melhor.
    Pelo Real de Moura, Cláudio Pereira não complicou e esteve bem diante dele, que sempre foi isso que o toiro pedira, que o motivassem e lhe dessem bom trato. 
    Saiu facilmente e humilhou muito na reunião, chegando a perder as mãos e afocinhar com o forcado no chão, não tardando o grupo a chegar para fechar com sucesso à primeira. 

    O júri decidiu atribuir os prémios bravura e apresentação ao Toiro de Guiomar Cortes Moura.

    Dirigiu, sob um critério algo benevolente, o Sr. Agostinho Borges, cumprindo-se um minuto de silêncio em memória de José Palha. 

    Pedro Guerreiro