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    Luís Rouxinol: "O Luís Rouxinol infelizmente não é imortal!"



    A simplicidade e a humildade com que se dá a conhecer, atenuam por vezes a grandeza do seu percurso e o estatuto que conquistou, o de Figura do Toureio. Luís Armando Ferreira Vicente tinha um sonho e realizou-o! Hoje, dia 10 de Junho, cumprem-se 30 anos desde que esse sonho tomou nova forma, e Luís Rouxinol se tornou cavaleiro profissional.

    Hoje, trinta anos depois, Luís Rouxinol pode ser considerado um dos maiores da história da nossa Tauromaquia pela regularidade demonstrada ao longo deste tempo e pela quantidade de triunfos alcançados. Um percurso difícil, de muito mérito e esforço por parte do cavaleiro ao qual, a dias de que o filho lhe siga as pisadas tomando também ele o estatuto de profissional, já Rouxinol lhe vê um final...


    "O Luís Rouxinol infelizmente não é imortal!"


    NATURALES: Luís, está agora a comemorar 30 anos de cavaleiro profissional mas comecemos então pelo princípio. Das primeiras vezes que o Luís apareceu neste meio foi como participante nas cortesias dos espectáculos onde o seu pai actuava como cavaleiro amador. Isso era já o bichinho dos toiros a chamar por si? 
    Luís Rouxinol: Penso que sim, eu gostava realmente daquilo e então comecei a pedir ao meu pai para ir com ele. Em casa sempre tivemos cavalos e depois o meu pai ofereceu-me um garrano e comecei a acompanhá-lo só nas cortesias de algumas das garraiadas em que ele participava. Passado algum tempo, passei também a tourear uma bezerra no final dos espectáculos. Tinha uns 7 ou 8 anos nessa altura e as pessoas achavam piada por ser muito miúdo. 

    NATURALES: E quando se deu o “já chega de cortesias, quero é tourear também”?
    Luís Rouxinol: Já não me chegava as cortesias realmente… E depois tínhamos uma vaca amansada em casa, e passava os meus dias a cavalo de volta dela. Até que um dia pensou-se em fazer o meu debute, mais numa de experiência, e acabou por acontecer numa vacada em Paio Pires. 

    NATURALES: A sua família achou piada a essa decisão? 
    Luís Rouxinol: O meu pai foi o impulsionador número 1! Já a minha mãe não achou tanta piada a princípio, mas depois percebeu que era aquilo de que eu gostava mesmo e acabou por apoiar também, tal como a minha irmã. 

    NATURALES: Acha que de alguma forma esse apoio e empenho do seu pai, seria para que o Luís desse continuidade e realização ao sonho dele, o de ser cavaleiro profissional? 
    Luís Rouxinol: Sim, de certa maneira podemos ver as coisas dessa forma. Ele tinha o sonho de ser cavaleiro mas nunca levou as coisas muito a sério, até por já ter alguma idade quando se dedicou a essa faceta e não passou de amador, e então talvez visse em mim o que ele gostaria de ter sido. Sem dúvida que para isso sempre me apoiou muito e ainda hoje me apoia. Mas penso que também quis ser cavaleiro por vontade própria, porque sempre tive cavalos e comecei a acompanhá-lo e ia a muitas corridas.

    Luís Rouxinol brindado ao pai, Alfredo Vicente, em 2016 no Montijo (Fotografia: Emílio de Jesus) 


    NATURALES: Quem foram as suas referências? 
    Luís Rouxinol: Quando era miúdo e chegava da escola, eu e outros amigos íamos brincar às touradas, e cada um era o seu toureiro. Os meus ídolos dessa altura eram o Luís Miguel da Veiga, o José Mestre Batista e o José João Zoio. Sabia todos os nomes dos cavalos deles...

    NATURALES: E no seu início, portanto deve ter sido o seu pai, quem lhe deu as primeiras noções, mas onde foi depois buscar mais ensinamentos de equitação e tauromaquia? 
    Luís Rouxinol: Sim, o meu pai foi o meu primeiro mestre. Depois estava em minha casa, logo nos meus inícios, o equitador Frederico dos Santos, que foi cavaleiro profissional e foi também bandarilheiro, assim como o senhor Francisco Murteira Correia, que foi também grande cavaleiro. Mais tarde estive algum tempo na Torrinha e também no Centro Equestre da Lezíria onde aprendi muito com o Mestre Luís Valença.

    NATURALES: Já que fala que esteve na Torrinha, nessa altura já o Mestre David tinha os seus filhos também a tourear, como é que se proporcionou a sua ida para lá e como foi o Luís recebido? 
    Luís Rouxinol: O meu pai falou com o senhor David e pediu-lhe que eu fosse para lá aprender, tinha eu aí os meus 14 anos, e fui muito bem tratado, era como se fosse da família. Lembro-me perfeitamente da primeira lição que o mestre me deu. Montei o Luar, cavalo ferro Ortigão Costa, da quadra do João Telles e o mestre David montado noutro cavalo disse-me: “Oh Luís, eu agora vou montar aqui um cavalo, o Luís vê como eu faço e depois vai fazer igual mas com o Luar…”. E ele lá andou algum tempo a montar e eu a ver. Depois claro, não fiz bem igual mas dei o meu melhor, que o Sr. David até veio ter comigo no fim para me dar os parabéns.

    NATURALES: Mas o Luís chegou a estar também em casa de outro cavaleiro, o Joaquim Bastinhas... 
    Luís Rouxinol: Sim, estive sensivelmente com ele uns 2 anos. O meu pai conhecia o senhor Sebastião, pai do Joaquim, que era um excelente equitador. Um dia, numa corrida, o meu pai falou com ele e perguntou-lhe se eu podia ir para lá ganhar mais alguma experiência, e o senhor Sebastião meteu logo a casa à disposição. Estive algum tempo em Elvas na casa dele, e depois também passei algum tempo no monte com o Joaquim Bastinhas, onde ia ganhando experiência.


    Rouxinol recebeu a alternativa das mãos de João Moura, sob o olhar de Rui Salvador e Joaquim Bastinhas a 10/06/87 (Fotografia: Arquivo/LR) 


    NATURALES: Voltando ao seu percurso, pelo que li o Luís foi muito elogiado pela imprensa nos seus tempos de amador e de praticante. Contudo, quanto mais se dava a conhecer, e mais provas dava em Praça, mais portas se fechavam. Mesmo após ter vencido o prémio de melhor lide na corrida da sua alternativa. Porque acha que isso aconteceu? 
    Luís Rouxinol: Não foi um percurso fácil. Por vezes dentro de praça triunfava, pensava que esses triunfos me iam dar mais datas, e depois isso não acontecia. Na corrida da minha alternativa por exemplo, uma corrida da Rádio Renascença, com a praça de toiros Celestino Graça em Santarém completamente cheia, e o cartel que foi… Jamais imaginava que chegasse ali e conquistasse o prémio! Claro que não pensei que com isso fosse tourear trinta ou quarenta corridas por ano, mas que com esse triunfo pelo menos me aparecessem mais algumas. E a verdade é que nesse ano as coisas não aconteceram. Nessa altura havia quatro ou cinco cavaleiros que estavam em grandes momentos, o caso do João Moura, do Bastinhas, do Salvador, o António Telles, o Paulo Caetano...e não era fácil integrar esses cartéis. E após a alternativa tive que ir para França, onde andei 2 ou 3 temporadas, porque as corridas cá eram poucas e para não parar, ter os cavalos a rodarem e eu também, para que quando aparecessem as oportunidades em Portugal, eu estar preparado! Até que numa corrida salvo erro em 1994, em Alcochete houve um colega meu que não quis tourear os toiros de Murteira Grave, e então falaram comigo. Eu aceitei, triunfei e a partir daí é que aos poucos as portas se foram abrindo...

    NATURALES: Mas porque acha que lhe davam essas negas? 
    Luís Rouxinol: Não sei em concreto mas não foi fácil... O mundo dos toiros é bastante complicado! Houve alguns empresários que naquela altura não me deram as oportunidades que eu penso que merecia e tinha valor para as justificar dentro de Praça! E hoje alguns deles, é como se fossem meus amigos, e pronto…olha, o que lá vai, lá vai. Alguns colegas meus muitas vezes também naquela altura se recusaram a tourear comigo e tiraram-me de muitos cartéis, mas de muitos mesmo…

    NATURALES: E isso ainda acontece hoje em dia? 
    Luís Rouxinol: Penso que hoje não tanto, comigo pelo menos não. Agora com colegas mais novos...mas quero pensar que não. Na Festa houve coisas que de lá para cá melhoraram, outras não…

    NATURALES: O Luís tem origens humildes, não vem de famílias toureiras, acha que isso também pode ter condicionado e conduzido às negas que lhe deram quando surgiu neste meio? 
    Luís Rouxinol: Não tenho dúvidas disso. Aliás, recordo-me que até havia uma empresa que dizia que eu nem nome de toureiro tinha, por isso para mim, isso é mais que lógico. 


    NATURALES: O Luís também tem um filho a tourear. Acha que hoje em dia ele tem também essas dificuldades? 
    Luís Rouxinol: Não... As coisas hoje não estão fáceis é verdade, existem vários jovens a quererem romper e as corridas pouco aparecem, e eles têm que as tentar agarrar da melhor maneira. Ainda assim, hoje em dia, os jovens têm a vida mais facilitada do que eu tinha nos meus inícios. O meu filho tem uma quadra que eu não tinha, nem sonhava que podia ter naquela altura, tem também a minha ajuda e sempre é bastante mais fácil. Por vezes também se torna complicado para ele por ser filho do Luís Rouxinol e quererem compará-lo ao pai, se bem que eu acho que não há comparação possível. Cada pessoa é uma pessoa, cada toureiro é um toureiro. Mas penso que ele tem condições para ir em frente...


    Luís em entrevista para António Sala, da Rádio Renascença, após vencer prémio Melhor Lide na tarde da sua alternativa em Santarém (Fotografia: Arquivo/LR) 


    NATURALES: Voltemos ao dia da alternativa, 10 de Junho de 1987, Monumental de Santarém, praça cheia, corrida da Rádio Renascença, João Moura, Joaquim Bastinhas, Rui Salvador e no final, o Luís levou o prémio em disputa para casa. Ainda se recorda da sua prestação? 
    Luís Rouxinol: Saí com o Jardim, cavalo castanho de saída, e nos curtos saí com o Universo, com ferro David Ribeiro Telles, o melhor cavalo que tinha nessa altura e que me acompanhou na carreira de amador, praticante e ainda alguns anos de profissional. Eu andei em toureiro no toiro de alternativa com esses dois cavalos, entendi o toiro, as coisas correram bem e terminei a actuação com dois pares de bandarilhas. Foi uma boa lide e ter aquela praça com mais de doze mil pessoas, não era fácil para um jovem em início de carreira mas consegui abstrair-me disso tudo, talvez até por inconsciência, mas consegui triunfar.

    NATURALES: E no seguimento do que já conversámos, dos colegas fecharem-lhe as portas, não acha que o ter vencido o prémio não os “assustou” ainda mais? 
    Luís Rouxinol: Não sei... Penso que não! Mas sabe que quando tens um lugar de figura, não gostas que apareçam outros a pisar-te os calos, como se costuma dizer… a apertar contigo em Praça. És figura, começas a andar cómodo e depois aparecerem jovens que começam a apertar contigo… Mas talvez por isso tenham tentado evitar que eu entrasse nalguns cartéis…

    NATURALES: Entretanto apareceu o Sr. Mário Freire como seu apoderado… 
    Luís Rouxinol: Apareceu numa altura bastante importante! O azar de uns é a sorte de outros… O senhor Mário Freire apoderou muito tempo o mestre Luís Miguel da Veiga mas depois romperam apoderamento e o senhor Mário Freire andou ali um ano sem toureiro e o meu pai, e alguns amigos em comum, a pedirem-lhe para ele me apoderar. Mas ele dizia “Apoderar não, quero estar sossegado...”, até que depois de tanta insistência, acabou por dizer que: “Apoderar não mas posso dar uma ajuda e metê-lo numa ou outra corrida”. Eu compreendo-o perfeitamente, ele não se queria comprometer não sabendo como eu ia ser. E olhe, depois arranjou-me algumas corridas e acabou por ficar...

    NATURALES: Por ficar mais de 2 décadas. Isso significa que justificou bem a aposta que ele fez em si e ao dia de hoje estaria muito orgulhoso do seu percurso? 
    Luís Rouxinol: Penso que sim, de certeza! Vivemos juntos momentos de grandes triunfos, também alguns menos bons pois como em tudo na vida, nem sempre as coisas correm bem. Só acho que o senhor Mário levou uma mágoa com ele, o de não ter visto a estreia do meu filho, Luís Rouxinol Jr.. Foi ele que lhe arranjou o Festival em que ele se estreou em Serpa mas veio a falecer dois ou três meses antes desse espectáculo, e tenho muita pena que ele não tenha podido assistir à estreia do meu filho nas arenas.


    NATURALES: Acha que se o Sr. Mário Freire não tivesse existido na sua vida, o seu percurso teria sido diferente? 
    Luís Rouxinol: Não tenho dúvidas disso, que eu não teria atingido os objectivos que consegui na minha carreira.


    O cavaleiro com Francisco Matias que fez parte da sua quadrilha, o seu eterno apoderado, o Sr. Mário Freire (ambos já falecidos), e o seu pai no Campo Pequeno (Fotografia: Arquivo/LR) 



    NATURALES: Com o falecimento do Sr. Mário Feire apareceu o Francisco Penedo a gerir não só a sua, como também a carreira do seu filho. O que é que o Francisco veio mudar na sua vida? 
    Luís Rouxinol: Ele já nos acompanhava há uns dois anos antes do senhor Mário Freire falecer, ia connosco às corridas, ganhou muitos conhecimentos no mundo dos toiros através do senhor Mário Freire, e foi-se integrando lentamente. O senhor Mário uma vez no hospital, e quando se viu mais atrapalhado com a doença, disse-me: “Uma pessoa boa para te apoderar é o Francisco”, e isso aconteceu. Tem sido um grande apoderado, um grande amigo, tal como o foi o senhor Mário, e penso que isso é também importante, e somos quase como família. O Francisco como apoderado veste 100% a camisola e tem sempre muitas ideias e iniciativas, coisas que a mim nem me ocorrem…mas ele pensa sempre mais à frente.

    NATURALES: O Francisco deve ser dos poucos apoderados que hoje em dia não é também empresário de uma praça. Para si, isso é um pró ou um contra?
    Luís Rouxinol: Por acaso foi algo que sempre pensei, o não estar ligado a um apoderado com praças. Penso que isso para os artistas nunca é benéfico. Depois começa a haver o pedido das trocas e “tu vais ali e tu vens aqui”, e neste momento da Festa isso é das piores coisas que acontece. É mau para a festa e para o público.

    NATURALES: Acha que o existirem muitos empresários-apoderados tem sido condicionante para os cartéis que vamos vendo? 
    Luís Rouxinol: Não tenho dúvidas nenhumas disso, é um dos maiores podres da nossa Festa actualmente é as trocas. Cada vez mais existem cavaleiros ligados a empresários e as trocas a acontecerem de qualquer maneira.




    NATURALES: Já aconteceu consigo, ver-se envolvido nalguma situação de troca de cavaleiros que de alguma forma tenha influenciado a sua presença num cartel? 


    Luís Rouxinol: Comigo não mas com o meu filho já aconteceu. Ele estar metido num cartel mas para meterem outros por conveniência...




    NATURALES: Em Portugal muitas vezes a imprensa e até os aficionados reclamam que é sempre a mesma coisa, que não temos artistas que se imponham, mas depois vem cá o Pablo e o Ventura, enchem praças, mandam nisto tudo e são vistos como figuras. Sente que cavaleiros como o Luís, o João Moura, o António, entre outros, já não conseguem fazer isso? 


    Luís Rouxinol: Não duvido que o Pablo e o Ventura são duas grandes figuras. Claro que levam mais gente à praça, quando eles vêm cá duas ou três vezes por ano, são uma novidade e isso faz o público também ir às praças. Mas se repararmos, nas últimas temporadas tanto um como o outro têm vindo cá mais vezes por ano e a força nas bilheteiras tem sido menor. Começam a ser mais vistos, e quanto mais vistos estão, menos força...








    NATURALES: Por falar em número de corridas, o Luís tem sido dos cavaleiros que mais corridas faz por temporada, sendo líder do escalafón quase sempre, toureia de norte a sul do país e também nas ilhas… Faz isso por necessidade ou simplesmente porque assim se proporciona?


    Luís Rouxinol: Em primeiro lugar porque as empresas me contratam! Querem o Luís Rouxinol nos seus cartéis. Depois, eu vivo dos toiros, sou profissional da tauromaquia! E desde que se chegue a um acordo e as condições sejam benéficas para ambos os lados, claro que tenho que aceitar. Esta temporada quero fazer menos corridas, e preocupar-me mais em lançar o meu filho. Quero reduzir lentamente a minha actividade e que comece ele a tourear mais. Tudo na vida tem princípio meio e fim, e aos poucos quero tourear menos.




    NATURALES: Ainda há pouco referiu que os rejoneadores Pablo e Ventura enchiam praça por serem novidade… Então e nunca pensou que, o facto de o Luís tourear tanto podia esgotar a sua imagem? 


    Luís Rouxinol: Sim, fui sempre dos que mais toureou, líder do escalafón, mas acho que isso acabou até por ser também uma imagem de marca que se criou à minha volta. Penso que esgotada a imagem não saía, porque em qualquer praça, fosse numa desmontável ou na mais importante do país, como o Campo Pequeno, sempre dei o meu melhor. Tento triunfar em todas elas, sem andar mais aliviado por estar aqui ou ali, e acima de tudo, sempre a respeitar o público!








    NATURALES: Então e onde é que lhe falta tourear? 


    Luís Rouxinol: Penso que já toureei em todas as praças ou quase todas as praças, penso eu...







    Uma das imagens de marca de Rouxinol, o par de bandarilhas (Fotografia: Florindo Piteira/Naturales) 



    NATURALES: Também o precede a fama de lidar todas as Ganadarias, tendo argumentos para todos os toiros, os bravos e para os mansos. Isso é mesmo assim ou existem alguns que preferia não tourear? 


    Luís Rouxinol: Nos meus inícios as coisas não foram fáceis e portanto não me podia dar ao luxo de escolher o que toureava. Se havia coisa que eu nem se quer perguntava, era de onde eram os toiros que ia lidar. Só quando por acaso encontrava um cartaz da corrida, é que sabia de onde eram! Eu só queria era oportunidades para mostrar o meu valor. Nunca escolhi ganadarias, e penso que o meu toureio, também para chegar mais ao público, tem que ter toiros que andem mais, que apertem, dos que fazem falta para criar emoção. Nunca recusei um toiro ou uma ganadaria... Claro que há ganadarias mais cómodas e que se calhar como cavaleiro até gosto de tourear mas entre o sair uma ganadaria a transmitir e outra dessas cómodas, como aficionado também sei pôr-me nessa posição, e prefiro uma que transmita!





    NATURALES: E o que é que o faz olhar para um toiro, por exemplo nas fotografias dos cartazes ou nos sorteios, e pensar se vai sair bem ou mal? 

    Luís Rouxinol: Por vezes as fotografias são bastante enganadoras! Às vezes no campo parecem uma coisa, e quando chegam à praça não têm nada a ver. Geralmente tento ver se têm bom tipo e por aí pensar que vão dar bom jogo, Mas pode ser um grande engano! Um toiro com mau tipo e feio pode acabar até por sair bem, e um toiro com bom tipo acabar por não servir. É como se diz, os toiros são como os melões, só depois de abertos...





    NATURALES: E por falar em ganadarias, no próximo dia 1 de Julho vai acontecer uma corrida muito importante para si. O Luís vai lidar sozinho, seis toiros de diferentes ganadarias, na praça da sua terra no Montijo. Muitos dos seus colegas preferem o toiro cómodo, o Luís arriscou na escolha que fez das seis ganadarias para a encerrona. Porquê estas em concreto? 


    Luís Rouxinol: Qualquer uma delas são ganadarias com as quais já alcancei triunfos. São toiros de ganadarias que transmitem, animais que andam e que podem chegar ao público permitindo-me praticar o meu tipo de toureio. De facto existem aqueles cómodos, mas também para esses é necessário praticar uma tauromaquia adequada... Cá em Portugal, não é qualquer cavaleiro que tem tauromaquia para esse tipo de toiro.








    NATURALES: Mas muitas vezes a preferência dos toureiros recai nesses animais de pouca transmissão, cómodos, perseguindo a passo...Diga-me sinceramente, dá ganas a um toureiro lidar um toiro que não transmite, que muitas vezes quase parece uma tourinha? 


    Luís Rouxinol: Dará prazer a esses cavaleiros que têm os cavalos postos para esse tipo de toureio. Mas não são assim tão fáceis porque os cavalos têm que estar mesmo bem preparados, andar sempre muito ligados nos toiros, se não acabam por ser lides sem história. Não é o meu tipo de toureio... Se me disseres, mas esses toiros são cómodos e não apertam... É lógico! Mas se formos ver bem, para o público isso não pode ser bom.








    NATURALES: Em relação à sua encerrona, é importante para si que a mesma aconteça no Montijo e possa ter o apoio das pessoas da sua terra?


    Luís Rouxinol: Sem dúvida! Uma corrida patrocinada pela Adega de Pegões, da minha terra, na praça da minha terra, com os grupos da minha terra... Conto ter muitas pessoas que irão lá estar para me apoiar e se Deus quiser as coisas vão correr bem.








    Douro, uma das estrelas da quadra (Fotografia: Pedro Batalha/Naturales) 



    NATURALES: Está habituado a tourear tanto mas confesse, essa tira-lhe o sono?


    Luís Rouxinol: Por enquanto ainda não mas se calhar quando faltar ali uma semana… Pode não me tirar o sono por completo mas se calhar só vou começar a conseguir adormecer mais tarde do que o normal, a pensar como irão sair os toiros, que cavalos vou levar... Coisas normais que se pensam antes das corridas. Mas vai ser um desafio duro!





    NATURALES: E a quadra está preparada para essa corrida de responsabilidade?


    Luís Rouxinol: Tem que estar... Os cavalos têm andado bem. Penso levar catorze ou quinze cavalos. Tenho, como muitos cavaleiros, dois ou três que são estrelas da quadra e que fazem a diferença. E depois tenho os outros cavalos que me irão ajudar nessa corrida.








    NATURALES: Na grande maioria, os cavalos com que tem saído são postos por si. Que características procura num animal para que se convença que será um bom cavalo? 


    Luís Rouxinol: Às vezes assim que têm o primeiro contacto com as bezerras e o toiro manso, vejo logo se têm aptidão ou não. Se bem que há uns que por vezes nessa fase parece que vão ser bastante bons e depois as coisas andam para trás, e pelo contrário há uns que não tinhas esperanças e depois revelam-se capazes. Se perderes tempo ali com 5 ou 6 cavalos, e desses saírem 2 bons já é uma sorte. Pessoalmente gosto de um cavalo que lide, que remate os ferros e não daqueles cavalos que servem só para meter as bandarilhas e não rematam. Têm que ser completos. Mas não é fácil arranjar o tipo de cavalo adaptado ao nosso toureio. Muitas vezes tem que ser o cavaleiro a adaptar-se ao cavalo e não o contrário.








    NATURALES: É assim tão difícil encontrar um bom cavalo? 


    Luís Rouxinol: Muito difícil, se hoje em dia quiseres um cavalo bom, pronto, de meteres o pé ao estribo e ires tourear amanhã...até podes ter o dinheiro para o comprar mas não vai ser fácil de o encontrares. Há alguns cavalos bons mas quem os tem não os vende e portanto não é fácil. Por vezes, as figuras têm uma quebra de triunfos por não terem cavalos à altura. E a crítica acaba por dizer mal do toureiro mas não sabem o que se passa na quadra de alguns cavaleiros para conseguirem os triunfos desejados. Às vezes não é culpa dos toureiros, é mesmo porque não têm cavalos...








    NATURALES: E de todos os que teve, quais ou qual destacaria?


    Luís Rouxinol: Ao longo da minha carreira já tive uns 3 ou 4 cavalos bastantes importantes. Tive o Bagdad, ferro José Henrique Casquinha, que andou comigo de amador, foi com ele que comecei a bandarilhar a duas mãos. Se eu hoje ainda o apanhasse na minha quadra, era cavalo para me dar muitas alegrias de certeza. O Disparate, com ferro João Núncio, foi um cavalo que me deu muitos triunfos! Acabou por morrer em praça durante uma actuação em Alcochete no ano 2000... Depois tive o Mustang, ferro Vidinha Porto, que não sendo fora de série mas face às características que tinha, penso que lhe tirei o máximo partido. Ferros de palmo, bandarilhas, violinos... Tive grandes actuações com ele e ainda hoje está lá em casa.








    NATURALES: Mas permita-me que possa eu destacar aqui o cavalo com quem, nas últimas temporadas, o Luís tem formado o par perfeito, e que na verdade é uma égua, a Viajante. É mais difícil encontrar qualidades para o toureio numa égua que num cavalo? 


    Luís Rouxinol: Ela realmente tem sido do melhor que tem passado lá em casa, nem tenho palavras para a descrever. Tem-me dado triunfos enormes, faz o tipo de toureio que eu gosto... Mas talvez os cavaleiros como existem muitos cavalos de boas linhagens, não percam tempo a procurar uma boa égua. Mas já tenho visto muitas éguas boas a tourear.








    Luís Rouxinol e a menina dos seus olhos, Viajante (Fotografia: Pedro Batalha/Naturales) 









    NATURALES: Uma das razões pelo qual a sua quadra também é grande é porque tem que servir dois cavaleiros. O seu filho vai este ano tirar a alternativa de cavaleiro. Um orgulho Luís? 


    Luís Rouxinol: Claro que sim! Ele começou há poucos anos e tem evoluído bastante para o pouco tempo que cá anda. As coisas têm corrido bem, está na altura de dar o passo seguinte. Espero que nessa noite da alternativa, o Campo Pequeno junte uma boa moldura humana e que os toiros do Dr. Joaquim Grave proporcionem uma grande noite e que o meu filho triunfe e realize o sonho dele.




    NATURALES: Como o Luís Rouxinol pai define como toureiro o Luís Rouxinol Jr.? 


    Luís Rouxinol: Um toureiro ainda com pouca experiência mas que sabe estar em praça, com sentido de lide e conexão com o público, e isso por vezes não é fácil. Existem toureiros que até sabem tourear mas depois criam uma distância com as bancadas e ele tem essa facilidade. Pratica um toureio sério e tem tudo para evoluir muito mais.








    NATURALES: E como filho? 


    Luís Rouxinol: Como filho...sendo o meu, o melhor! É como os outros jovens da idade dele, tem sido um bom filho mas muitas vezes somos quase é como dois irmãos. Ele tem sido, no bom sentido, a minha sombra. Sempre que pode está comigo e vai comigo para todo o lado! Mas porque ele quer…








    Pai e filho em cumplicidade (Fotografia: Pedro Batalha/Naturales)






    NATURALES: Sente que desde que a carreira do seu filho começou a tomar proporções mais sérias e de responsabilidade, o Luís também passou a acusar mais pressão? Ou seja, tiram-lhe mais o sono as corridas dele do que as suas e acha que isso também influencia de alguma forma o seu desempenho em Praça? 


    Luís Rouxinol: Penso que não! Sem dúvida que as corridas dele me tiram mais o sono que as minhas. Antes das corridas dele passo mal e quando são as minhas não mas quando é ele, sinto um certo nervosismo. Penso que não tenho motivos para isso mas o ter um filho em praça é muito complicado... mas daí a condicionar as minhas prestações, penso que não.






    NATURALES: Este ano tem tido uma série de iniciativas que marcam a efeméride dos 30 anos. Apresentou um site, um pasodoble com o seu nome, vai haver uma exposição, arranjou novos patrocínios, saíu agora uma edição limitada de garrafas de vinho com a sua imagem, o camião dos cavalos também renovado... Sente que estes pormenores hoje em dia também fazem a diferença e que um artista não pode esperar ser só falado pelo que faz na arena? 


    Luís Rouxinol: Não tenho dúvidas disso! Hoje em dia cada vez mais tudo o que envolve um toureiro é de muita importância. Praticamente passa tudo pela internet, onde se alcançam milhares de pessoas, e por isso não te podes focar só nas corridas, tens que te envolver nestas outras áreas todas. E quase todos esses projetos que referiu também surgiram por empenho do meu apoderado.








    NATURALES: Tem associado a si o título de “papa troféus” pela quantidade deles que conseguiu e por muitas vezes serem quase garantidos dada a regularidade das suas actuações. Acha que os seus colegas já têm receio de tourear ao seu lado? 


    Luís Rouxinol: Essa pergunta devia ser feita a eles... Mas penso que devo ser neste momento o cavaleiro com mais troféus. Eu emprego-me sempre mas quando há prémios a entrega é ainda maior. Quando não os ganho fico triste. Mas se não os ganho merecidamente, tudo bem, às vezes também depende se tenho um toiro colaborador... Agora quando não os ganho injustamente, aí fico bem chateado. E isso acontece não só comigo mas com outros colegas também claro. O que é lamentável. Às vezes há corridas que mais valia não terem troféus... Já se sabe quem os ganha!





    NATURALES: E se tivesse que escolher o troféu que mais gostou de receber nestes 30 anos de carreira? 


    Luís Rouxinol: O da alternativa sem dúvida mas também três galardões de triunfador do Campo Pequeno. Penso, que isso é qualquer coisa... E os vários prémios Corrida TV e Rádio Renascença.








    O "papa-troféus" em acção (Fotografia: Arquivo/LR) 



    NATURALES: Um toureiro como o Luís, que toureia imenso e que mantém regularidade, sendo figura do toureio, sente que tem o reconhecimento que merece por parte do público? 


    Luís Rouxinol: Por parte do público penso que sim. Ainda agora recentemente em Coruche, tive uma enorme satisfação por ver completamente de pé praticamente toda a praça a aplaudir-me. Numa praça muito ligado à família Ribeiro Telles, estarem a aplaudir-me e fazerem-me dar duas voltas à arena...foi sem dúvida motivo de orgulho e prova de que o público reconhece quando as coisas te correm bem.








    NATURALES: E por parte dos seus colegas? 


    Luís Rouxinol: De alguns sim, de outros nem por isso... E talvez também por parte de alguns críticos. Alguns deles não me dão ou não me querem dar o valor que tenho... E olhe que eu não ando aqui há dois anos, ando há trinta! E penso que tenho sido excelente profissional...








    NATURALES: Mas não é bem tratado pela imprensa? 


    Luís Rouxinol: Depende da imprensa... Por vezes leio crónicas de certas corridas que não coincidem com as corridas que aconteceram. Por vezes o Luís Rouxinol tem boas actuações mas quando chega a vez de falarem das suas lides e contarem aquilo que aconteceu, parece que se acaba a tinta na esferográfica... Tento desvalorizar isso, porque para mim o crítico maior é o que paga bilhete! Todos sabemos que há imprensa que é paga para falar bem e com regularidade de alguns toureiros. Isso acontece agora, aconteceu antigamente, acontece cá, acontece em Espanha... Agora, penso que pior que ser pago para falar bem, é aquele que mesmo sem receber, fala mal só para não roubar protagonismo ao seu toureiro.








    NATURALES: Acredita que tem amigos neste meio? 


    Luís Rouxinol: Tenho muitos conhecidos, amigos... Talvez com os dedos de uma mão os possa contar.








    O dia-a-dia de Luís Rouxinol nos cavalos (Fotografia: Arquivo/Naturales) 









    NATURALES: E alguma vez pensou em desistir disto tudo? 


    Luís Rouxinol: Houve uma certa altura, logo ali uns dois anos após a alternativa, aí talvez não tenha sido bem desistir mas… Sabes o que é trabalhares todos os dias, toureares vacas, montares os cavalos e não teres corridas?! Isso era desmotivante. Depois lá aparecia uma corrida ou outra e então pensava para comigo “"Eu penso que tenho valor e até sou melhor que alguns que andam aí e eles têm oportunidades e eu não hei-de ter porquê?", e isso dava-me vontade de não desistir, sabia que alguma vez se haviam de convencer...





    NATURALES: Nestes 30 anos de alternativa que diferenças vê na Festa dos Toiros de quando começou para agora, sendo que como já aqui falámos, no seu início foi difícil... 


    Luís Rouxinol: Mais ou menos, com uma ou outra alteração, está quase tudo igual. Hoje se formos ver, com as redes sociais, as informações espalham-se mais depressa. Acho que antigamente os empresários tinham mais afición, eram pessoas mais do toiro. Actualmente, e como já falamos, existem muitos que são também apoderados e por vezes origina as trocas "eu meti o teu e tu metes o meu"! E agora quando vais actuar numa praça não vais pelo valor que tens ou pelo triunfo que tiveste. Hoje em dia estares bem ou estares mal é quase o mesmo... Sobressaem os interesses!








    NATURALES: E estes 30 anos de alternativa passaram a correr?


    Luís Rouxinol: Têm passado um bocado rápido, sim... Parece que foi ontem e se for bem a ver, já tenho trinta anos de alternativa e um filho que vai tirar a alternativa dele... O tempo corre! 






    NATURALES: Gostava de voltar ao dia de hoje mas há 30 anos atrás? Faria tudo igual na sua vida se soubesse o que sabe hoje?


    Luís Rouxinol: Ao dia da minha alternativa penso que sim... Mas havia algumas coisas que talvez não fizesse. Algumas pessoas que me acompanharam, e se eu voltasse atrás, hoje não me acompanhavam de certeza absoluta.








    NATURALES: Vejo no seu pulso uma pulseira que diz “viver sem tourear não é viver”... Isso significa que vamos poder ter o Luís Rouxinol o resto da vida nas arenas? 


    Luís Rouxinol: Não... Tenho a certeza que não! Este ano faço trinta anos e depois não quero andar aqui mais que três ou quatro anos no máximo. Pretendo reduzir o número de corridas, tourear cada vez menos, seleccionar mais os festejos... E depois, será montar os cavalos do meu filho, ajudá-lo, reformar-me... Mas não, o Luís Rouxinol infelizmente não é imortal!








    Luís Rouxinol, a entrega em Praça (Fotografia: Florindo Piteira)