Crónica de Reguengos: "30 anos, 40 graus"
Diz-se que uma boa tarde de toiros pede "sol, toiros e moscas" e em
Reguengos só não dei pelas moscas. Já o calor foi muito e a fazer relembrar as
tardes do 15 de Agosto naquela praça.
Juntou-se pouco mais que meia casa, estando composto
o tendido de sombra e mais destapado o do sol, sendo que muitos se mantiveram abrigados
até quase ao intervalo nas galerias, dadas as temperaturas demasiado elevadas neste
11 de Junho por terras do Alentejo profundo.
Na arena, e em dia de festa, foi Luís Rouxinol
quem mais aqueceu os tendidos, quiçá inspirado no triunfo que obteve há 30 anos
aquando da sua alternativa. E foi por essa mesma razão, que após as cortesias,
se deu lugar a uma homenagem ao cavaleiro pela efeméride das três décadas de
toureiro profissional.
Lidaram-se toiros de Murteira Grave e Passanha,
bem apresentados no geral, cumpridores e rematados de carnes. Tiveram mais
transmissão e mobilidade os de Galeana, vendo-se no geral e em várias matizes o
comportamento de mansos.
O maestro João
Moura abriu tarde frente ao primeiro toiro da ganadaria Passanha, cómodo, tardo
nas investidas, com querença nas tábuas e com o qual o cavaleiro de Monforte
teve pouca ligação. Limitou-se a cumprir com a ferragem da ordem, delegando a
brega nos seus bandarilheiros. Teve eficácia e foi certeiro no palmito com que
encerrou função.
Frente ao que foi segundo do seu lote, um toiro
de Murteira Grave reservado, João Moura viu-se mais voluntarioso e empregue na
lide. Foi eficiente na ferragem comprida e nos curtos andou com disposição de a
cravar com bons modos e procurando arrimar-se nas reuniões, ainda que a
actuação acabasse por vir a menos.
Rui Salvador teve pela frente um 'murteira grave' que
durante a lide variou no comportamento, ora perseguia ora se desinteressava. Já o cavaleiro teve mérito na brega, com reuniões
nem sempre ajustadas, algumas passagens em falso e carecendo por vezes as
sortes de remate.
No que foi quinto da tarde, um ‘passanha’ que
se deixou, e ainda que de pouca transmissão se empregou na perseguição às
montadas, Salvador andou com mais atitude e manteve o animal sempre ligado.
Teve mérito e eficácia o segundo e terceiro ferro curto que cravou, resultando
por vezes mais despegada a restante ferragem.
Luís
Rouxinol
quis brilhar no seu primeiro e mandou recolher os subalternos. Trocou-lhe as
voltas o toiro de Murteira Grave que, ao ter saída descomposta, não consentiu
uma sorte gaiola. Ainda assim, saíu a pedir contas numa perseguição com raça e
gás à qual o cavaleiro correspondeu com boa brega. Foi de altíssima nota o
primeiro ferro comprido, sorte aliás, na qual Rouxinol foi eficiente toda a
tarde. Nos curtos, foi mais consistente
na brega e nos ladeios ajustados a que o Douro se permite, do que na colocação
da ferragem, sendo de boa nota o 3º curto. Veio a menos o toiro, que revelou
pouca força, começando a procurar refúgio em tábuas, tendência que Rouxinol foi
contrariando com um toureio de muita ligação e que facilmente chegou às
bancadas, rematando a lide com um bom par de bandarilhas. No final, houve
consentimento de uma volta ao ganadero…
No que foi último da tarde, um ‘passanha’ distraído,
manso e reservado, Rouxinol impôs mando mas também acresceu de exigência para
superar as dificuldades impostas pela rês. Nos compridos, onde apresentou uma
nova montada, foi eficaz na sua colocação, ainda que nos remates tenha
consentido alguns toques. Nos curtos, e dos quais foram de boa nota os
dois primeiros, voltou a evidenciar a sua virtude de bom lidador, mexendo o
toiro de terrenos, tentando dar ligação a um oponente desinteressado e cuja
condição obrigou o cavaleiro a valer-se de esforço para sacar o que não havia.
Nas pegas pareceu fácil a tarde, com os dois
Grupos em praça a demonstrarem valor e eficácia. Pelos de Montemor, Francisco Bissaia Barretos aguentou a investida sem
maldade do toiro, consumando bem e à primeira; Francisco Borges viu o seu toiro
ensarilhar ligeiramente, para depois se fechar com decisão numa viagem eficaz
ate tábuas e à primeira; e Manuel Ponce Dentinho, fechou a tarde pelo grupo
montemorense, com mais uma pega de boa execução à primeira tentativa.
Pelos Amadores
de Monsaraz, David André Silva viu o seu toiro arrancar-se pronto assim que lhe
pôs a vista em cima, não teve tempo nem distância para recuar e acabou por não
reunir no primeiro intento. À segunda, melhorou com uma reunião decidida e o
grupo coeso a efectivar; Carlos Polme efectivou bem e à primeira, frente a um
toiro de investida alegre; e Nelson Campaniço conseguiu corrigir a reunião a tempo
de não deixar o toiro, sendo também eficaz o primeiro ajuda, e concretizando assim
à primeira.
Dirigiu a corrida sem problemas o sr. Agostinho
Borges, assessorado pelo veterinário Dr. Matias Guilherme, numa tarde de 30
anos de alternativa em que foram os 40ºC os que mais se evidenciaram.
Por: Patrícia Sardinha