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    Crónica de Beja - Desabafos pós trauma...



    Ainda embebido num espírito e apatia incomum, reflexiono sobre acontecimentos que dificilmente palavras podem explicar.
    A tarde do 1º de Maio em Beja pode considerar-se um episódio pontual num quadro de análise paranóica.
    Admito que fiquei perplexo e achei perigoso este cartel aquando do seu anúncio. Soava a uma espécie de variedade de marca branca, daquelas sem selo de garantia e com mais se's que certezas.
    Podia perder o meu tempo (e o vosso) com uma analogia extensa e subjectiva de acontecimentos como o de hoje, mas como escrevi há tempos num artigo, muito come o tolo...


    Cartel sem pressupostos, com falta de interesse. A aposta arriscada de Rafael Vilhais não foi contundente, e Beja ainda tem aficionados, se bem que possa não parecer.


    Era feriado e o tempo até ajudava, mas a Corrida Ovibeja não precisava (nem merecia) alterações de data em prol de outros eventos. Beja sempre resultou no sábado de feira, dia com maior concentração de pessoas na cidade, em que depois se faziam jantares-tertúlia e a festa durava até de manhã sempre em torno do mesmo: toiros. Meia casita medonha. Sinal de alerta? Muito come o tolo...

    Os Toiros da Herdade do Zambujal, da divisa ouro e verde garrafa, puxaram dos galões da marca Vinhas. Dissemelhantes no que respeita a apresentação, três de maior aparato mas feia postura, e três no limite que em Beja não era costume. Entre negro enterpelado, cárdeno escuro, cardeno claro, cárdeno claro bragado e meano e cárdneo mulato, os Vinhas merecem um plus na casta que ostentaram. Curro para se tourear a sério, com tempos, conhecimento e inteligência. Raramente outorgaram o que não queriam, e até os broncos sacaram génio para revelar lidadores (ou falta disso). Mais braveza que bravura, com um segundo toiro de importante condição. 450Kg de alimaña, com poder e encastado, com classe quando investiu por baixo no capote e muita tecla para se tocar uma boa obra.

    O primeiro da tarde luzia um perfil algo asaltillado, foi um manso de cátedra e com várias limitações. Andy Cartagena foi infeliz nas abordagens ao animal, sem ofício para dar-lhe volta.
    O quarto tinha esqueleto, de morfologia pouco apetecível, corniaberto e a mostrar-se algo debilitado fisicamente. Foi bronco, pedindo ao toureiro jogar nas suas intenções. Poucos argumentos demonstrou o rejoneador espanhol, revelando lacunas a vários níveis. Paupérrimo.

    Francisco Palha cravou o ferro da tarde. Esperou o Vinhas de frente, a escassos metros dos curros, arrancando cavalo e toiro ao mesmo tempo e na mesma direção para uma porta gaiola de nível e reveladora das intenções do jovem Palha. Havia toiro para mais. Difícil, encastado e com poder. Movia-se rápido e com poucos passos. Foi sacando génio e Francisco Palha nunca se chegou a confiar verdadeiramente. Mérito na verdade e conceito que buscou, mas frustração para os que continuam a aguardar a sua confirmação. Consentiu em demasia o toiro, toques e sinais de atenção desnecessários e apenas dois ferros na retina. 
    O quinto nunca rompeu. Sem definir-se com clareza, informal e chato, era evasivo e mal agradecido, manso e a pedir labor. Houve esforço e vontade de Palha, mexendo-lhe quando permitido e podendo com ele quando havia consentimento. O primeiro curto foi o melhor, de muita expressão dada a exposição e entrega do cavaleiro, que contudo acabou sem romper e com falta de constância.

    Dizer que Mónica Serrano andou à deriva parece-me simpático. Mas ninguém  ficou muito depois do fim da telenovela mexicana de ontem...
    Pode mais do que quer (porque está montada para isso), mas falta-lhe tudo o resto e que implica a designação de alguém que se possa apelidar toureiro. O primeiro Vinhas não foi gentil, e foi suficiente para revelar o que aí vinha. Sem conexão, sem lide, sem noção. Valeu-lhe a sua boa quadrilha, mas nem isso. Fez batidas na Ovibeja e cravou na Cidade do México, se me permitem a hipérbole.
    Com o sexto veio menos confiada, acusou uma enorme pressão que acredito ser difícil de digerir, até porque o curro de Vinhas foi uma antítese do toiro pretendido para o rejoneo (ou será que não? Queria ver Vinhas destes na Maestranza...). Tardou em ganhar sítio, sem mando, sem estaleca. Sacou no fim um cavalo muito bom com o ferro de Pablo Hermoso, de uma expressão tremenda, bem visível num quiebro que executou antes de sair. A ver o que se sucede...


    Joaquim Brito Paes pode ser um caso. Tem valor, sentido e respira viveza e entrega em praça. Os cavalos com que se apresentou ontem... Mais que meio caminho andando. Dosificou um bom novilho de Varela Crujo, que teve tranco e mobilidade, perseguindo com vontade e respondendo com codícia a provocações mais exigentes. Lide de mérito do mais jovem Brito Paes, com tempos, medidas e com equação de todas as circunstâncias para lograr um labor de qualidade. Sempre em crescendo, com o novilho a ir a mais, houve ligação, sequência e um toureio de muito agradável feitura. Há esperança.

    Houve interesse nas pegas, com toiros a chegar inteiros e a pedirem forcados que algumas vezes pecaram pelas decisões.

    Por São Manços, Manuel Vieira consentiu pouco na primeira tentativa, corrigindo com qualidade e uma boa primeira ajuda na segunda tentativa; Rui Pelado não encontrou dificuldades para pegar o quarto à primeira, com o grupo bem a ajudar; João Rosmaninho, num gesto de salutar, convidou elementos dos Amadores de Cascais e Beja para partilhar a última pega da tarde. Reunião pouco ortodoxa mas boa entrada do restante elenco para fechar à primeira;

    Pelos Amadores de Cascais Marco Baião esteve decidido com o segundo, tendo efectivado pega à terceira tentativa após verificadas algumas falhas em fechar já em tábuas; Ventura Doroteia enfrentou um toiro sem franqueza e algo ordinário. Na primeira tentativa faz um estranho e para-se praticamente aquando da reunião, revelando-se bruto e complicado. Consumou no quarto intento.

    O valoroso Miguel Sampaio, pela jaqueta da casa, os Amadores de Beja, custou a corrigir o defeito de recuar pouco ou quase nada. O primeiro derrote do toiro era de um poder tremendo, violento e defensivo. Estava inteiro e isso notou-se bem no poder com que se empregava nas viagens. Consumou à quarta tentativa; Ricardo Castilho é um dos melhores forcados dos Amadores de Beja, e não é de hoje nem de ontem. As duas últimas temporadas têm sido complicadas e ingratas, mas ontem marcou o seu regresso com o selo do costume. Sério no cite, com mando e muita qualidade, recebendo bem e aguentando viagem completamente fechado e com firmeza até o grupo sincronizar a fechar.

    Dirigiu e bem, com critério e rigor Agostinho Borges.

    Atenção, muita atenção ao que sucede em Beja...

    Pedro Guerreiro