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    Crónica de Serpa - 'Oh Serpa de Guadalupe...'


    Serpa, vila branca. A margens de guadiana, com um semblante especial. Serpa, de Guadalupe, com uma história taurina demarcada no baixo alentejo. 
    Serpa conquistou um ponto, uma referência na calendarização tauromáquica anual. O fim-de-semana de Páscoa em terra de serpentinos vive-se com entusiasmo e devoção à causa, e o seu Festival Taurino a favor de uma entidade como a dos Bombeiros Voluntários de Serpa,é uma certeza de que a qualidade, seriedade e dinâmica ainda valem a quem ousa apostar num mundo como este.
    Serpa congrega no seu festival um nível que não é vislumbrado em praças de categoria superior. A relutância mantida na aposta pelo toureio a pé é inequívoca prova de afición e mérito, e se provas faltassem os cartéis e os resultados obtidos estão à vista.

    A primavera aguça a vontade, o cartel e a causa ajudam e a partir daqui é óbvio que a resposta tende em funcionar... 3/4 de público, tarde quente e longa, por momentos enfandonha, mas no cômputo final a agradabilidade foi geral. 

    Após um merecido e sentido minuto de silêncio em memória de Luís Cruz, cavaleiro bejense que faleceu este ano, e do menino Adrián Hinojosa, foi Luís Rouxinol a estrear o novo albero da praça desmontável instalada em Serpa. Em perfeitas condições para as montadas, resultou complicado e ingrato para restantes protagonistas, incluindo para o público que inalou um desconfortável pó durante toda a tarde.
    O primeiro da tarde tinha o ferro MB, pertencente à divisa de Santiago, de pelagem castanha, com tipo harmonioso e pouco ofensivo pela frente. Revelou conduta de manso, desinteressado e sem fijeza, acabou em tábuas com poucos recursos, ainda que nos capotes tenha metido a cara humilhada e com recorrido. Em início de temporada, e que importante é na carreira do cavaleiro de Pegões, que de saída foi homenageado pelos seus 30 anos de Alternativa, Luís Rouxinol não logrou regularidade na sua prestação, aproveitada para dar oportunidade a novas montadas que podem tornar-se em futuras promessas. Diminuído nos compridos, a lide de curtos não resultou com sequência, chegando com maior força ao público com o violino com que selou uma prestação de inconstância. 

    O segundo da tarde, baixo e cornidelantero, de pelagem negra, pertencia à divisa vizinha de Varela Crujo. Saiu a medir, com pouca clareza e  custando a revelar as suas intenções. Filipe Gonçalves deu-lhe lide excessivamente comprida, aproveitando para rodar várias montadas. Dando eco ao seu toureio, e afinando pela bitola que até então tinha marcado a tarde, não chegou a convencer, terminando montado no Chique e chegando com maior impacto à bancada, com destaque para um bom par de bandarilhas. 

    Manuel Telles Bastos lidou outro toiro de Santiago, negro mulato de imponente presença, que resultou móvel, nobre e com disposição ainda que com problemas de fixação. O segundo comprido foi de nota, e ainda que a série de curtos não tenha sido redonda, houve três meritórios e com muita qualidade, com especial destaque para o penúltimo, aguentado para partir recto e quebrar a investida numa reunião cingida e de nível, epílogo de uma prestação conseguida.

    O toiro de Jorge Mendes fazia inveja a muito curro, negro, de grande aparato morfológico, mas com uma expressão de buen mozo, dada pela sua acapachada córnea. A espaços houve codícia e vontade, perseguiu com nobreza até que o peso e o piso lhe permitiram, acabando rachado em tábuas. João Telles Jr esteve de mais a menos, com os primeiros dois curtos a resultarem mais exequíveis do que se viu na restante lide. Assente e capacitado a lidar, faltou a conjugação com o momento da cravagem, quase sempre sem acople.

    Os Amadores de Cascais e Beja nem sempre tiveram papeleta fácil pela frente, até pela seriedade dos toiros ali lidados... Praça desmontável e de 3ª...? Tomara muitas de primeira. 

    Por Cascais, João Silva pegou o primeiro da tarde ao terceiro intento, após tentativas em que o toiro demonstrara falta de franqueza e a resultar complicado; Luís Fernandes esteve correcto com o segundo de Santiago, que partiu franco e não molestou na viagem.
    José Campaniço, representado a jaqueta do Grupo de Forcados Amadores de Beja, não encontrou dificuldades para pegar com efectividade o toiro de Varela Crujo na primeira tentativa; Diogo Morgado teve um papel ingrato com o quarto, a revelar-se sonso e com maldade, tendo conseguido fechar na terceira tentativa. 

    Fez-se intervalo, 'regou-se' a arena e seguiu turno Manuel Jesús El Cid. O utrero, pertencente à ganadaria Sobral, negro bragado meano, não estava sobrado de força, e a sapiência do maestro de Salteras foi determinante para lhe sacar as qualidade que tinha. O novilhos investiu humilhado no capote, com recorrido e nobreza, mas na muleta sacou o seu fundo. Con sevillanas maneras, El Cid esteve em toureiro, dando-lhe os tempos e as pausas necessárias ao seu ritmo. Faltou o morro mais vezes no chão, e principalmente chegar com empuje aos finais, mas o ritmo e classe da investida foram para desfrutar do toureio de Manuel Jesús. A sua mão esquerda é de seda, não admira ter já sido considerada a melhor do escalafón. Bordou naturais, alguns profundos, dotados de temple e ligação. Obra toureira e de nível do toureiro sevilhano.

    David Galván, outro jovem que tem o toureio na cabeça (ainda que não tenha a sorte de ser emergente como outros), enfrentou um novilho de Falé Filipe, algo cuesta arriba, de investida incerta e várias vezes descomposta. Luziu-se com qualidade no capote, ajustado e bem por chicuelinas, e a gosto por verónicas, rematando com uma media de cartel. Com a flanela rubra não logrou sequência, também essa pouco permitida pelo oponente, que por várias vezes passou lejos entre o pico da muleta e a figura do toureiro de Cádiz. De frente, e com a mão esquerda, logrou um natural cingidíssimo e de grande empaque, para seguir uma tanda também pela zurda outorgada pela inércia do animal.

    Manuel Dias Gomes lidou um sobrero de Ascensão Vaz, grande e fora de tipo, de cara pouco agradável e condições nulas. Manso perigoso, rebrincado e várias vezes cortando terreno por dentro. Manuel andou esforçado, tentado sacar água a uma fonte que nem uma gota queria dar. No capote chegou a prometer, com o toureiro relaxado e a denotar fineza por delantales, mas o restante
    não resultou...

    A corrida foi dirigida por Tiago Tavares e abrilhantada pela Banda local, numa tarde em que vários brindes e homenagens foram feitas à organização, Bombeiros Voluntários de Serpa, e a Luís Rouxinol (pelos seus 30 anos de alternativa), sendo de pecar as mais de 4h de espectáculo.

    A data, que se mantenha com o mesmo nível e qualidade. Por Serpa, pelos seus aficionados, pela festa e por Guadalupe!

    Pedro Guerreiro