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    Crónica 1ª abono Campo Pequeno: "O cliente tem sempre razão"


    A ideia de que “o cliente tem sempre razão” remete-se a 1909 e nasceu para convencer os clientes de determinadas marcas envolvidas na criação do slogan, de que iriam usufruir de um bom serviço. 

    Contudo, a máxima pegou e é habitual ver quem paga por um serviço assumir ser dono da razão e da verdade, principalmente aquando de uma reclamação.

    Juan José Padilla repetiu em Lisboa, a proeza de deixar a afición lisboeta completamente rendida ao seu toureio e à sua entrega, abrindo pela terceira vez a Porta Grande da Praça de Toiros do Campo Pequeno. 

    O toureiro espanhol "vende" actualmente uma marca, um registo, uma história de superação, e para isso tem ele muita clientela em Lisboa, ou melhor, em Portugal. 

    Assim, independentemente da qualidade do seu toureio precede-o a história dramática e o valor na arena que o endeusaram aos olhos dos aficionados lusos que, enquanto pagantes, não reclamam, pelo contrário, rejubilam e, se são eles que pagam…lá acharão bom o serviço.

    Mas a verdade, é que qualquer um de nós sabe que, nem sempre o cliente tem razão…


    Da 1ª do abono da Temporada Histórica dos 125 anos do Campo Pequeno, fica desde já a primeira casa esgotada! E outra coisa não seria de esperar face ao cartel apresentado.

    Lidaram-se toiros de Vinhas para as lides a cavalo e de Varela Crujo para as actuações a pé. Dos primeiros, animais com pouca cara mas bonitos de capa e sem excessos de carnes, foi nobre e por vezes reservado em perseguir após a ferragem o que abriu praça, sendo mais enraçado o lidado em quarto lugar, adiantando-se por vezes nas sortes. Os ‘varelas’ foram cumpridores em apresentação, sendo mais pequenote o sexto. Em comportamento, foi de grande nobreza e repetidor, o lidado em segundo lugar, a quem inclusive foi concedida volta ao ruedo, o que a mim parece exagerado, dado que bravura e nobreza nem sempre andam de ‘mãos dadas’. Já o terceiro da corrida foi animal de pouca força, rebrincou em demasia e pouco humilhava. O quinto da ordem foi encastado e com sentido e a fechar a noite, um manso sem raça.


    João Moura, ainda que nada tenha a provar, ‘apertado’ que estava pelas duas figuras de luces, quis iniciar função arriscando numa sorte gaiola. A qual, com saída descomposta do toiro, se resumiu a boa brega. Ainda se viu aflito quando o ‘Xarope’ escorregou mas não passou de susto sem consequência, resultando a actuação cumpridora, e de onde sobressaem os bons, terceiro e quarto ferros curtos.

    Já no que foi o segundo do seu lote, Moura teve actuação de maior inconstância, acusando alguns ferros passadíssimos assim como toques nas montadas. 

    Para as pegas saíram à praça os Amadores de Vila Franca, e onde foram protagonistas Ricardo Castelo, cabo do Grupo, que consumou bem à segunda tentativa, uma pega com impacto na reunião e o toiro a levar baixa a cara na viagem. Rui Godinho também efectivou à segunda e com o grupo coeso, depois de no primeiro intento não ter sido eficiente a reunião. 




    Juan José Padilla foi a Lisboa fazer o que lhe competia e o que queriam ver. No seu primeiro, houve variedade e entrega garantida, aproveitando-se das condições nobres da rês, que praticamente deixou fazer de tudo. Ele esteve de joelhos com o capote, ele esteve de joelhos com a muleta, ele foi circulares, ele pôs em delírio as bancadas com o tércio de bandarilhas… Tudo o que o público queria, Padilla tinha para oferecer. E por vezes com bastante mérito no seu toureio. Duas voltas lhe valeram.


    Ao quinto da noite, faltavam três voltas para garantir a Porta e Padilla soube como as arranjar. Para o público naquela corrida não existia mais nada, apenas o ‘pirata’. E quiçás por isso, mas também porque o toiro não lhe consentia tanta confiança, o toureio de Padilla foi mais acelerado, de pouco temple, despegado e de muito, muito desplante. Houve uma série em redondo boa de verdade, o resto foi feito para as bancadas, completamente rendidas a Padilla, o artista. Três voltas!

    O peruano prodígio do toureio actual, Roca Rey, não teve sorte com o lote mas também lhe escasseou maior ambição e entendimento com as bancadas. Mas a verdade é que quando Roca Rey pegou no capote frente ao seu primeiro, houve classe em fartura! E quando de muleta deu os primeiros passes, pés fixos, mão baixa, um temple, uma lentidão… o silêncio e a indiferença das bancadas soou a desesperante. Afinal o Toureio a Pé em Portugal renasceu ou não? É que ninguém diria… Contudo, a sobriedade de uma faena frente a uma rês que condicionava a beleza dos muletazos rebrincando a cada passe, acabou por passar discreta. 


    Já no que foi sexto, um manso que saía solto, Roca voltou a não poder brindar os presentes com um toureio de maior convicção. Contudo, ficam sem dúvida, os bons modos e a classe de um toureiro que, depois do ‘ciclone’ Padilla, se viu apagado para as bancadas, inclusive para os que abandonaram a praça após a lide do quinto toiro.

    No final Porta Grande para Juan José Padilla, que foi ainda homenageado por parte da Banda do Samouco com um bonito pasodoble com o seu nome, composto por António Catalão Labreca, o qual se teve o prazer de conhecer após as cortesias.

    Num país onde outrora uma padeira tratou da saúde a muitos espanhóis, verifica-se agora uma nova invasão espanhola nas arenas, mas desta vez sem padeira que valha a um Padilla que ele sim, é Rei em Lisboa.

    E se o cliente tem sempre razão…venha de lá o Padilla outra vez para pôr ao rubro a afición portuguesa!




    Por: Patrícia Sardinha