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    Entrevista - António João Ferreira: "Culpa minha não ter triunfado antes!"


    Conta já com 8 anos de alternativa de uma categoria que no seu País lhe é negada de executar, a de matador de toiros. António João Ferreira mantém o ar do menino que se iniciou na Escola de Toureio “José Falcão”, mas a maturidade e o valor de um artista que tem sabido aguardar pelo seu momento, com sacrifício e paciência. 

    Em 2016, vestiu por uma única vez o traje de luces em Portugal. Numa temporada em que se aclamou o triunfo do toureio a pé, António João continuou esquecido e só mesmo no final da época, a Praça de Toiros da sua terra adoptiva lhe abriu portas. ‘Tójó’ aproveitou a oportunidade e deixou todos a falar das suas faenas. 

    Para 2017, revigorou-se de intenções, de ilusões e perspectivam-se mais oportunidades e a primeira delas é já no dia 4 de Fevereiro em Mourão.

    O Naturales, neste início de ano, esteve à conversa com o matador de toiros António João Ferreira.

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    "Nasci toureiro, morrerei toureiro!"

    NATURALES:  Comecemos pelo princípio, apesar de ser natural de Santarém, está desde sempre associado a Vila Franca e à sua Escola de Toureio. O que despoletou essa vontade de ser toureiro e como foi parar à "José Falcão"?
    António João Ferreira: Na verdade, eu nasci no meio taurino! Os pais dos meus avós, principalmente os de minha avó, sempre foram pessoas ligadas ao campo e consequentemente os meus avós também. Repare que o primo do pai da minha avó era o senhor Celestino Graça, impulsionador na construção da Praça de Toiros de Santarém. Daí dizer que nasci no ambiente taurino... Mais tarde, com 7 ou 8 anos, começou o meu gosto pela Festa quando em casa se faziam treinos de toureio a cavalo mas o que realmente eu gostava de ver eram os bandarilheiros com o capote. Com os meus 11 anos soube que havia uma Escola de Toureio em Vila Franca de Xira. Fui até lá para inscrever-me mas, e nessa altura era o professor o bandarilheiro Pedro Santos, que não me aceitou devido ao facto de ser muito menino e não se queria responsabilizar. Fiquei  triste, com pena e regressei para casa. Passados uns dias, recebo um telefonema e tal o meu espanto...era maestro José Júlio a dizer-me que tinha todo o gosto, e se eu ainda quisesse ser toureiro, que poderia entrar para a Escola de Toureio “José Falcão”.  Imagina a minha alegria...no outro dia já estava lá para ser toureiro.

    NATURALES: Que recordações guarda desses tempos na escola de toureio e que importância considera que a mesma teve na vida de um jovem que queria ser toureiro mas acima de tudo como pessoa?
    AJF: Tenho grandes recordações de todo o tempo em que estive na escola de toureio.  Guardo momentos únicos com os meus companheiros, sem nunca esquecer aqueles  em que tanto aprendi com o maestro José Júlio. Mas há uma recordação muito bonita, que tenho entre tantas outras, mas esta é especial, que foi quando a escola de Vila Franca representou Portugal numa novilhada em Jerez de la Frontera na qual actuei, tendo eu cortado três orelhas a reses de Manolo Gonzalez. Guardo com carinho os momentos depois dessa novilhada, onde desfrutei das conversas com o maestro José Júlio, José Manuel Rainho e o saudoso bandarilheiro João Vilaverde.

    NATURALES: Houve algum ensinamento que o maestro José Júlio que lhe dado que tenha tido maior significado para si?
    AJF: O maestro José Júlio é um homem com uma capacidade incrível para transmitir ensinamentos taurinos. Recordo-me uma vez num tentadero e depois de ter toureado uma vaca, ele dizer-me que deixasse a ciência e toureasse mais com a alma. Aprendi muito com esse ensinamento.


    NATURALES: Em momentos chave da sua carreira, ombreou com actuais figuras do Toureio. Debutou com picadores em Olivença a 14-03-2003 onde também actuou Miguel Angel Perera; apresentou-se em Madrid a 09-07-2006, cartel do qual Joselito Adame fez parte. Que recordações guarda desses dias?
    AJF: A minha apresentação em Olivença, na novilhada com picadores, foi algo que eu queria muito. E recordo esse dia em especial por todos os vilafranquenses e aficionados portugueses que me acompanharam e apoiaram nesse dia. Em Madrid...foi um dos meus sonhos que se realizou! Tinha o sabor especial, se bem recordo, porque o triunfador da novilhada no Campo Pequeno, realizada pelo maestro Rui Bento Vasquez, iria também fazer o seu debute em Las Ventas mas fui eu o triunfador. E debutar na praça mais importante do mundo taurino levou a dois sentimentos, o de felicidade e da responsabilidade.

    NATURALES: Em 2008 chegou o desejado dia, o da alternativa, mais precisamente a 22 de Julho em Mont-de-Marsan. Qual foi o sentimento nesse dia?
    AJF: Um dos mais esperados momentos iria na verdade acontecer...  O que tanto tinha sonhado e  por ele sofrido ia realizar-se! Foi um dia que sempre irei recordar embora não tenha ficado contente pelo falho com a espada pois poderia ter sido o triunfador da feira desse ano de 2008.

    NATURALES: Mas provavelmente o facto de se ter tornado matador em França contribuiu para que fosse sempre muito acarinhado pela afición francesa... Sente que os franceses têm mais sensibilidade, para não dizer entendimento do toureiro, do que os aficionados portugueses e por isso lhe têm sabido dar mais valor?
    AJF: A afición francesa acompanhou-me desde o meu início de novilheiro até à alternativa. E também foi do meu agrado ter tomado a alternativa em Mont-de-Marsan. Vivi em França algum tempo, travei grandes amizades e de alguma maneira quis devolver o carinho que me deram. Não vou fazer comparações de afición, pois cada lugar tem uma afición diferente seja França, Portugal, Espanha, México ou até mesmo Colômbia. Agora, em França vivi essa sensibilidade de repetirem quem triunfa, eles apoiam muito os toureiros e organizam-se de uma maneira extraordinária.


    NATURALES: Recordo-me que dos seus tempos de novilheiro foi sempre dos mais destacados, participou em muitos festejos, mesmo apesar do toureio a pé ser por vezes 'esquecido' no nosso país. Contudo, com a alternativa, diminuíram essas oportunidades. Arrependeu-se alguma vez de se ter tornado matador?
    AJF: Não, nem nunca me arrependerei! Nasci toureiro, morrerei toureiro. Sabia que ia ser um largo e difícil caminho. Houve momentos que, claro que pensas e desmoralizas, mas no dia seguinte, agarras outra vez numa muleta e numa espada e voltas a sentir o mesmo do primeiro dia em que quiseste ser toureiro.

    NATURALES: Esse decréscimo nas suas actuações, acentuou-se ao ponto de em 2016, ter actuado apenas 2 vezes, uma em França (Aire Sur L'Adour) e outra em Vila Franca. O acha que se passou?
    AJF: Culpa minha por não ter triunfado antes e com mais impacto! Existem outras circunstâncias, e uma delas foi não ter ninguém com força a apostar de verdade em mim.

    NATURALES: Felizmente a tarde na Feira de Outubro em Vila Franca, a única oportunidade que lhe deram em 2016 no seu País, correu da melhor maneira e a crítica foi unânime em considerar as suas actuações como das melhores que se viram na temporada. Como se sentiu depois dessa corrida?
    AJF: Sim, foi uma tarde importante a da corrida da Feira de Outubro em Vila Franca. Penso ter podido mostrar capacidade para estar na tão digna homenagem ao maestro José Júlio.  Fiquei com a moral bastante elevada e com vontade de continuar a evoluir como toureiro.



    NATURALES: Ainda não que de forma oficial, mas o António João terá em 2017 a colaboração do antigo matador de toiros Rui Bento, na gestão da sua carreira. Como surgiu essa possibilidade e que importância tem essa ajuda para si?
    AJF: Sim, na verdade o maestro Rui Bento Vasquez tentará ajudar no que estiver ao seu alcance. Pode e deverá ser muito importante para mim a sua sua ajuda mas cabe-me a mim justificar na frente do toiro e conseguir mais argumentos para que o maestro possa orgulhar-se. A colaboração do maestro veio dar tanto profissionalmente como moralmente outro rumo à minha carreira.

    NATURALES: Voltemos ao triunfo em Vila Franca, garantiu-lhe já a presença num dos Festivais Taurinos a realizar a 4 de Fevereiro em Mourão. Estará também quinze dias depois no Festival da Protoiro, "Bullfest"... Fala-se que regressará à Palha Branco no Colete Encarnado para ombrear com Padilla. Certamente que fará parte da composição do abono lisboeta... Depois da travessia do deserto, 2017 será o ano de António João Ferreira?
    AJF: O triunfo em Vila Franca foi importante! Neste momento irei tourear em Mourão na abertura da temporada, a aproveito para agradecer o facto de estar presente e também a maneira como o ganadero Dr. Joaquim Grave elevou e mantém o nível de cartéis em Mourão.  E é para esse Festival que quero concentrar-me agora e conseguir um triunfo. Depois,  todos os outros contratos irão aparecendo...

    NATURALES: E perspectivas de actuar no país vizinho?
    AJF: Estou com muita ilusão de poder confirmar a alternativa em Madrid. Esperemos que este ano seja de confirmação...

    NATURALES: Que toureio leva dentro e procura expressar sempre que sai à praça?
    AJF: Procuro um toureio puro, no qual me identifico e gosto de sentir que o público consegue vibrar com o meu toureio. Procuro fazer um toureio de pureza e gosto...

    NATURALES: E que toureiros lhe servem de inspiração?
    AJF: Primeiro que tudo sou aficionado e por isso tenho muitos toureiros de quem gosto ver tourear. Mas aquele que realmente me transmite mais emoções e paixões, é sem dúvida o José Tomás.

    NATURALES: No ano passado, o toureio a pé foi o mais destacado da Temporada em Portugal, muito por culpa da presença de figuras espanholas, como Padilla e Morante. Falou-se mesmo que o toureio a pé renasceu, antevê-se que se realizem mais festejos Taurinos mistos em 2017... Também acredita nisso? Acha mesmo que alguma coisa vai mudar?
    AJF: Claro que sim! É importantíssimo que as figuras venham a Portugal como nos anos 60 e 70 o fizeram. Aliás, alguns empresários têm feito o esforço de trazer as primeiras figuras do toureio. Recordo que o maestro Rui Bento, há uns anos atrás, trouxe as primeiras figuras na mini feira que montou.  E na verdade agora a afición parece estar mais entregue ao toureio a pé. Devemos acreditar nisso...

    NATURALES: Qual é o seu maior desejo enquanto matador de toiros?
    AJF: O meu maior desejo é sem dúvida poder continuar a fazer o que mais gosto, tourear!











    Por: Patrícia Sardinha
    Fotografias: Arquivo/Pedro Batalha/Naturales