Entevista a Luís Capucha - Associação Tertúlias Tauromáquicas de Portugal
No próximo dia 5 de novembro, pelas 15 horas, terá lugar em Abiul, na sede da Tertúlia Tauromáquica “O Berço”, a primeira Assembleia Geral da TTP – Associação de Tertúlias Tauromáquicas de Portugal.
Para saber um pouco mais sobre a TTP o NATURALES – CORREIO DA TAUROMAQUIA conversou com Luís Capucha, presidente da Tertúlia “Abre Max” de Vila Franca de Xira, o grande mentor deste projeto e candidato a presidente da direção, que ao que tudo indica, será eleita no próximo dia 5 em Abiul.
Naturales: O que é a TTP – Associação de Tertúlias Tauromáquicas de
Portugal e como surgiu a ideia de criar esta Associação?
Luís Capucha: Há muito que as
tertúlias e clubes taurinos sentem a ausência de uma voz que represente os
aficionados, que são quem suporta toda a cultura tauromáquica. Essa voz é
imprescindível, porque é a daqueles cujo papel na Festa é puramente afetivo e
desinteressado e, por isso, têm quase sempre uma opinião mais objetiva e
imparcial do que a dos profissionais. No entanto, os aficionados em Portugal
não têm estado representados nem sequer na Comissão Nacional de Tauromaquia.
Este défice de representação foi
o motivo que, no passado, deu origem à Associação Nacional de Grupos
Tauromáquicos, que entretanto desapareceu, em grande medida, devido ao modelo
organizativo que possuía.
Num encontro de tertúlias
realizado em Alter do Chão em 18 de Abril de 2015 foi avançada a ideia de ser
criar uma nova Associação. Essa ideia veio a ser novamente discutida no
Congresso das Tertúlias de Vila Franca de Xira, no final do mesmo ano. Desde então
a iniciativa foi-se desenvolvendo e a TTP – Associação de Tertúlias
Tauromáquicas de Portugal acabou por nascer, com Estatutos, Regulamento Geral
Interno que foram sendo discutidas ao longo de várias reuniões em Alcochete,
Alter do Chão, Azambuja e Entroncamento. A primeira Assembleia Geral terá lugar
em Abiul, no dia 5 de novembro.
Entretanto, a Associação não
ficou à espera de se constituir legalmente para iniciar a atividade em defesa
da Festa de Toiros, tendo tido um papel
ativo na discussão com todos os grupos parlamentares com vista à “barragem”
contra os projetos de Lei anti-taurinos que foram este ano apresentados na
Assembleia da República pelo PAN, pelo PEV e pelo BE.
Naturales: Quais sãos os principais objetivos da TTP?
Luís Capucha: Os objetivos
principais são a defesa e valorização da Festa de toiros, em cooperação com
outras entidades que partilham os mesmos objetivos, como a Protoiro e a Secção
dos Municípios com Atividade Taurina da
Associação Nacional de Municípios; a representação dos aficionados portugueses
junto das entidades oficiais e de entidades congéneres no estrangeiro; o apoio
mútuo entre Tertúlias na concretização das atividades de cada uma; o trabalho a
favor da elevação da Tauromaquia a Património Cultural Imaterial de Portugal e
da Humanidade.
Naturales: Quais as Associações que fazem parte da TTP?
Luís Capucha: Até ao momento
estão com as suas quotas pagas o Grupo Tauromáquico Sector 1 de Lisboa, a
Tertúlia Festa Brava com sede atualmente em Azambuja, o Aposento do Barrete
Verde de Alcochete, A Tertúlia de Alagoa, O Clube Taurino da Moita, a Tertúlia
Tauromáquica Terceirense, a Tertúlia Abre Max e a Ludo-Taurus de Vila Franca de
Xira, a Tertúlia “A Mexicana” de Lisboa, a Tertúlia Velha Guarda de Azambuja. O
Clube Taurino do Concelho da Chamusca, a Tertúlia Risco ao Meio de Coruche, o
Clube Taurino Beringelense, a Tertúlia “A Fenomenal” do Entroncamento, o Clube
Taurino do Agrupamento de Escolas de Alter do Chão, o Clube Taurino de
Alcochete e a Tertúlia “Berço da Tauromaquia” de Abiul. São já um grupo
representativo, mas muitas outras estão a decidir juntar-se a breve prazo.
Naturales: Qual será a posição da TTP em relação as outras associações
como a Prótoiro?
Luís Capucha: As Tertúlias estão
representadas na Prótoiro, e deverão continuar a estar. A relação com a
Protoiro, com os municípios e com outras entidades que convirjam nos objetivos
de defesa da festa de toiros só pode ser de colaboração. Isso não implica que
se anulem as diferenças e até as divergências. É normal que os aficionados, por
exemplo, não partilhem as mesmas posições que os empresários, os ganadeiros, os
toureiros ou os diretores de corrida. Mas temos de saber ultrapassar as nossas
diferenças e trabalhar em conjunto para valorizar a Festa que todos amamos.
Naturales: Como analisa o momento da Festa de Toiros em Portugal, e
qual será a importância da TTP para a sua melhoria?
Luís Capucha: A análise da Festa
de Toiros em Portugal tem muitas facetas. Desde logo, ela é pujante e cada vez
mais agregadora no que respeita às, chamemos-lhes assim, tauromaquias
populares. A parte mais formal das corridas de toiros tem a vantagem, em
Portugal, da grande diversidade de modalidades, o que empresta à Festa um valor
significativo. A cabana brava portuguesa tem condições para suprir as
necessidades, em termos de qualidade e quantidade. Algumas ganadarias
atravessam mesmo um momento muito bom, ao passo que outras, como sempre
aconteceu, declinam ou até desaparecem ou mudam de mãos, umas vezes para
melhor, outras para pior. Mas estamos relativamente bem servidos de ganadeiros
e, por isso, do elemento principal da festa, o toiro. Os forcados são um dos
grandes pilares da Festa. Há um conjunto de grupos com muita qualidade e depois
há um fenómeno de crescimento dos grupos e do número de forcados que por um
lado é positivo porque releva da afición dos jovens portugueses, mas por outro
lado nem sempre asseguram a necessária qualidade taurina. O toureio a cavalo
atravessa um momento difícil. Nem sempre a seleção se faz pelo valor, mas
muitas vezes pelos “valores” e isso não é bom. Ainda há o problema do recuo da
verdade na cravagem dos ferros face aos adornos da doma, resultante da
importação dos padrões do rejoneio. Mas os cavaleiros tauromáquicos em Portugal
continuam a contar com muitos valores firmes e consagrados, ao mesmo tempo que
há um conjunto, a meu ver limitado, de jovens que querem romper. O toureio a pé
tem sido muito mal tratado pelas empresas. Na presente temporada, porém, ficou
demonstrado que o público aprecia a “arte de Montes”, que a corrida mista pode
ser a chave do futuro e que há matadores portugueses ativos com muito mérito e
que mereciam outra imaginação me outra afición das empresas. Como sempre
aconteceu, eles podem alternar com matadores de toiros de outros países, e isso
poderia abrir as portas a muitos jovens novilheiros e bezerristas das Escolas
de Toureio que estão a bater à porta da Festa. As empresas, como disse, são
pouco imaginativas e ousadas. Acomodaram-se a um modelo que dá para sobreviver,
mas não para ganharem muito dinheiro, o que seria bom sinal. Também é nocivo o
fenómeno, que não é só português, das empresas que são ao mesmo tempo
apoderadas de toureiros. Faltam críticos de referência. Há muitas pessoas a
fazer crítica, alguma boa e outra nem por isso, mas são muito poucos, embora os
haja, os críticos respeitados por toda a gente. Com uma melhor crítica talvez o
público pudesse tornar-se um pouco mais exigente e, sem perder a alegria que
nos caracteriza dentro das praças, obrigar os protagonistas melhorar
continuamente. Enfim, a nossa Festa não está pujante, mas também não está
doente como alguns dizem. Precisa de melhorar e mudar algumas coisas
importantes, para continuar a calar forte no coração dos dois milhões de
aficionados e portugueses que gostam de toiros.
Há que estar atento, muito
atento, aos ataques dos anti-taurinos. Os de hoje não são como os de antes. Não
se pode continuar a dizer que “sempre existiram e a Festa cá continua”. Os de
agora estão organizados, apoiados muito bem financeira e ideologicamente e
possuem meios de propaganda que têm conseguido fazer com que a sua mensagem
passe na comunicação social. São uma minoria mas muito ativa, e com isso criam
a ilusão de uma dimensão que não possuem. Essa ilusão, porém, arrasta alguns
adeptos e, principalmente, leva alguns políticos a jogar o seu jogo na crença
de que assim caçam mais votos. Felizmente, por enquanto, os deputados e
autarcas têm sabido defender a democracia cultural e a liberdade, mas essa
batalha está longe de ter terminado.
Naturales: Com o ano de 2016 a terminar, quais são as atividades
previstas pela TTP para realizar 2017?
Luís Capucha: queremos em
primeiro lugar organizar, conjuntamente com a Secção de Municípios com
atividade taurina e com a Prótoiro, um grande Congresso dedicado ao tema da
Democracia Cultural, da Identidade Cultural e da Festa de Toiros. Para que
possamos construir de forma inteligente e muito debatida uma estratégia capaz
de assegurar a defesa e a melhoria da qualidade da Festa de Toiros.
Naturales: Para terminar. Um desejo para 2017?
Luís Capucha: Que não se verifique mais nenhuma acidente
grave em Praças de Toiros e nas ruas em que se correm toiros e que possamos
disfrutar em clima de liberdade e tolerância da Festa que levamos como Paixão.
Entrevista realizada por Vitor Morais Besugo