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    Crónica de Lisboa: "Dez anos e um dia depois"


    Dez anos e um dia depois, a Praça de Toiros do Campo Pequeno abriu as suas portas para uma corrida de toiros que serviu de comemoração a uma década de realização de espectáculos taurinos no histórico edifício restaurado.

    Dez anos e um dia depois, o cartel repetiu-se (à excepção dos Amadores de Montemor ausentes agora do cartaz) mas o resultado do festejo, esse, resultou mais “ligeiro” do que há 10 anos e um dia.

    Ligeiro o resultado e as bancadas…

    Esquecidas as longas filas que se verificaram em Maio de 2006, quando foram postos a vender os bilhetes dos primeiros espectáculos, agora, em 2016, a lotação da praça ficou muito aquém das expetactivas, tendo em conta que se anunciava um cartel de figuras.

    Artisticamente, a corrida teve o seu interesse, pois pese embora os 10 anos e um dia passados, sentiu-se por parte dos artistas algum rejuvenescimento e ‘encastamento’.

    Para isso também contribuiu o jogo prestado pelos toiros da ganadaria Vinhas, cómodos de cara, sem excessos de carne, prontos e codiciosos os lidados em primeiro e sexto lugar, mais tardos mas com investida os restantes.

    João Moura regressou a Lisboa com a disposição, não de há 10 anos mas seguramente de há uns bons 20 anos, e isso refletiu-se na verdade impingida nos ferros que cravou aquando a sua primeira lide, principalmente no quarto e quinto ferro. Ainda que nem sempre cuidasse dos remates das sortes, foi um gosto ver a actuação do cavaleiro frente a um toiro de bonita capa, cumpridor, que transmitiu e teve mobilidade. Uma lide, infelizmente, não tão reconhecida pelas bancadas como a mesma merecia, passando a boa colocação dos ferros despercebida ao público que vive sempre à espera de algo com mais artifício para reagir, o que se veio a verificar depois nos ladeios com que o cavaleiro encerrou função. Frente ao que foi segundo do seu lote, animal alto, avacado, distraído e de menor transmissão, João Moura voltou a demonstrar empenho, não resultando a actuação tão segura mas ainda assim, muito correcta.

    António Telles, dez anos e um dia depois, voltou a exibir o que de melhor sabe fazer, tourear a cavalo. Saíu com pata o seu primeiro toiro, animal com pouca cara, que acabou por se revelar reservadote, e a quem o cavaleiro apertou os terrenos para cravar um grande primeiro curto, a que se seguiram outros de boa nota, numa actuação onde a maestria foi elevada e a classe superior. Mas completa, e uma verdadeira lição de toureio, foi a segunda actuação do cavaleiro da Torrinha, frente a um toiro tardo mas por vezes com arrancadas bruscas, que foi recebido com três ferros compridos. Após, tudo o que se seguiu foi um hino ao toureio a cavalo à portuguesa, com uma brega primorosa, abordagens rectas e pormenores que marcam a diferença, destacando-se o 1º, 2º e 4º curto.

    Rui Fernandes veio a Lisboa com umas ganas desmedidas ainda que nem sempre a resultar consistente de resultados. Frente ao primeiro do seu lote, o cavaleiro andou em plano cumpridor, aguentando a tarda investida do toiro e destacando-se no primeiro curto, e no quiebro que se seguiu, com forte batida pronunciada ainda que depois o ferro acabasse por cair. Já no que fechou actuação, um grande toiro de Vinhas, nobre, enraçado, e recebido com um grande ferro em sorte gaiola, Rui Fernandes pretendeu insistir nos quiebros, mas quando há verdade no toiro e se executa o ‘engano’, resultam passagens em falso, o que se verificou por duas vezes seguidas. Depois, apanhou-lhe novamente o jeito o cavaleiro, para então cravar mais dois curtos. Logrou citar de praça a praça, e esperava-se um grande ferro ao se perspectivar um encontro tão cingido, mas aconteceu que essa proximidade antevia colhida certa, dando-se a sorte da montada levantar as mãos e o toiro passar-lhe literalmente por baixo, sem se quer lhe tocar. E assim, após quatro curtos, ainda não se escutava música em Lisboa, o que veio a acontecer após mais um ferro, e já com o cavaleiro 'impaciente' com o director de corrida. Atitude que não acrescentou nada a uma actuação vibrante mas irregular, rematada com um bom par de bandarilhas.

    Nas pegas, foi equilibrado o duelo entre os Amadores de Santarém e os de Lisboa.

    Abriu pelo centenário grupo, o cabo em despedida, Diogo Sepúlveda que só consumou à quarta tentativa, e com ajudas carregadas, depois de nas tentativas anteriores o toiro baixar muito a cara. Seguiu-se Lourenço Ribeiro, que consumou à primeira, ainda que a sofrer derrote mas a aguentar e a levantar o público das bancadas; João Brito fez uma viagem rija até tabuas e também ele a efectivar à primeira tentativa, com uma grande pega.

    Pelos Amadores de Lisboa, também o cabo do grupo alfacinha, Pedro Maria Gomes, apenas efectivou à quarta tentativa, e com ajudas carregadas. Manuel Jorge Guerreiro efectivou à primeira, com a espectacularidade de uma pega com direito a ‘volta de campana’; e Pedro Gil, a consumar à segunda, depois do toiro o ter esperado, teve braços e coração para aguentar a viagem de uma grande pega.  

    Ressalvar que foi concedida volta ao maioral da ganadaria Vinhas ao quinto e sexto toiro, numa noite dirigida com critério pelo director Tiago Tavares, assessorado pelo veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva.


    E dez anos e um dia depois, foi assim…