Crónica do 1º Festival em Mourão: "E não toureava o José Tomás..."
À hora que escrevo esta crónica,
mais coisa menos coisa, todo o mundillo
taurino está de olhos postos na Monumental do México onde irá actuar o matador
de toiros José Tomás. Garantida casa esgotada, mais de 44 mil espectadores, e
um ambiente de grande expectativa que oscila entre a cara e a cruz que sempre
acompanham os festejos onde o diestro espanhol se apresenta.
A milhares de quilómetros de
distância, algures onde muitas vezes parece que o tempo não tem horas e a terra
não tem sombra, também se esgotou uma praça e também se viveu grande ambiente. Em Mourão não esteve o José Tomás
mas aquilo que se registou dentro das paredes da Libânio Esquível foi, à nossa
pequena dimensão, quase comparável.
Independentemente da qualidade do
toureio praticado, se acaso o fossemos avaliar à escala milimétrica, viveu-se
na tarde de 31 de Janeiro um hino à Festa dos Toiros. Principalmente ao Toureio
a Pé, e não, não digam jamais que em Portugal essa vertente não interessa a
ninguém...porque interessa e Mourão deu provas disso.
Lidaram-se reses da ganadaria
Murteira Grave, marcado com o 2 o primeiro do lote e lidado a cavalo, animal com mais presença mas que veio de mais a menos em transmissão, e cinco novilhos marcados
com o digito 4, mais pequenotes, pouca cara mas praticamente homogéneos de comportamento, destacando-se o 3º,
4º e 6º da ordem.
E se de figuras era a tarde, com
uma figura do Toureio a Cavalo se deu início, e Rui Fernandes foi a Mourão
disposto e entregue. Tentou sempre manter ligação com o oponente, que começou
por apresentar boas condições, perseguindo com codícia a montada, inclusive
arrancou-se ao cite de largo para o primeiro curto. No segundo, Fernandes
encurtou as distâncias e voltou a rubricar um bom ferro não descurando o
remate. A partir daqui começou a ter menos toiro mas não menos vontade, aproveitou
e rodou os cavalos (quatro) e não saiu de Mourão sem deixar um par de bandarilhas
e um palmito numa actuação correcta e que deu o mote para a restante tarde.
Também de figuras falamos quando
nos referimos ao Grupo de Forcados Amadores de Santarém que tiveram a honra de
pegar o primeiro toiro da Temporada 2016, por intermédio de Francisco Graciosa que aguentou bem a investida da rês, que primeiro o levantou e depois baixou a
cara, com o grupo coeso a responder com eficácia consumando-se à primeira
tentativa.
Finito de Córdoba abriu o registo
do Toureio a Pé frente a um novilho de pouca presença, que saiu descomposto mas
que a classe e a experiência do toureiro moldaram, com o animal a meio da faena
metido e entregue à flanela do espanhol, a quem se viram melhores tandas pela
direita.
Depois veio Juan José Padilla, a
quem precede a fama e o valor, e a bonita praça de toiros de Mourão quase veio
abaixo. O novilho era feio de cara, baixel, mas de uma nobreza extrema,
consentindo quase tudo ao toureiro que aproveitou a disposição do público para
dar tudo. E desse tudo começou logo de capote com duas largas cambiadas de
joelhos prostrados. Fez-se ao tércio de bandarilhas e cravou três pares para
delírio da assistência. De muleta, voltou a ajoelhar-se e dez vezes lhe passou
o novilho pela flanela com as 2 mil cabeças pendentes dele. A seguir foi toda
uma actuação de enorme valor e entrega que é o que tem de sobra Padilla. E o novilho
sempre a deixar-se... Consentiu desplantes, deixou-se dominar
pelo toureiro que toureou pela esquerda, pela direita, por frente e por trás...
Padilla entregou-se a Mourão e Mourão aplaudiu-o e rejubilou por ele de pé!
Duas voltas lhe exigiram.
Juan Bautista, que surgiu no cartel
em substituição de Paco Ureña, em boa hora aqui 'caíu'. Depois do triunfo
venezuelano, o francês foi protagonista da actuação mais séria da tarde. Mostrou-se
logo variado no capote para na muleta, e aproveitando as boas qualidades do
novilho, se deixar ver um toureio de muita ligação, principalmente pela direita, sem
baixar muito a mão para que a pouca força do novilho não se revelasse, mas
consentindo séries em redondo, de um toureio profundo e de muita verdade perante um novilho com bom tipo e classe.
Fernando Robleño teve pela frente
o novilho mais complicadote, que investiu por vezes a meia altura, descompondo-se
no final de cada tanda. Mas o toureiro foi de uma entrega e um valor que lhe
permitiram superiorizar-se ao oponente, logrando pormenores de um toureio de
qualidade, com muita disposição por parte de Robleño.
O jovem Manuel Dias Gomes fechou
a tarde frente ao último novilho, também ele nobre e de boas condições, com rasgos de bravo, e a quem
o português evidenciou a sua classe de capote. No tércio de bandarilhas, destacamos
o grande 1º par cravado pelo Cláudio Miguel, todo um artista. Já
com a muleta, Dias Gomes demonstrou toda a segurança do seu toureio, com uma grande
e meritória faena que brindou aos colegas de cartel, dando vantagens ao
novilho para depois o levar empregue na flanela, desfrutando o toureiro e
fazendo desfrutar nas bancadas. Durante a sua volta, fez-se acompanhar do
ganadero pelo bom jogo dado no geral pelo curro enviado.
Dirigiu o Festival o sr. Agostinho Borges, assessorado pelo veterinário Matias Guilherme, num espectáculo que se iniciou com um minuto de silêncio em memória do jovem forcado recentemente falecido num acidente de viação.
Dirigiu o Festival o sr. Agostinho Borges, assessorado pelo veterinário Matias Guilherme, num espectáculo que se iniciou com um minuto de silêncio em memória do jovem forcado recentemente falecido num acidente de viação.
Final de uma tarde de sucesso, de e para aficionados, com
os espectadores a aplaudirem de pé todos os intervenientes, que do centro da
arena, agradeciam reconhecidos a uma afición que, como dizia alguém no final do
festejo, saiu de "papinho cheio".
E nem precisámos de ver tourear o José Tomás...
E nem precisámos de ver tourear o José Tomás...
Por: Patrícia Sardinha