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    Entrevista ao Dr. Joaquim Grave: "A verdade é que gosto mesmo deste acontecimento em Mourão"


    Estamos a pouco mais de uma semana para começar tudo de novo... E será em Mourão que se darão as boas-vindas à Temporada Taurina 2016. 

    A propósito da denominada I Feira Taurina da Sra das Candeias, o NATURALES, entrevistou o DR. JOAQUIM GRAVE. O conceituado ganadero, quase 'filho adoptivo' daquele concelho, é pela terceira vez consecutiva o organizador do tradicional Festival em honra da padroeira local e foi ele o mentor da ideia de, em vez de um, este ano serem dois Festivais.

    Uma entrevista para abrir apetite...




    Dr. JOAQUIM GRAVE: "Desenganem-se aqueles que esperam ver novilhos enormes e com cara em Mourão"


    Em equipa que ganha não se mexe” e pelo terceiro ano consecutivo cabe a si a organização do espectáculo taurino (este ano em dose dupla) que integra as Festas em honra da Nª Sra das Candeias em Mourão. Tomou-lhe o gosto?
    Dr. JOAQUIM GRAVE: Sim, a verdade é que gosto mesmo deste acontecimento em Mourão. Não sou natural de Mourão, mas sou residente no concelho há já muitos anos e tenho um carinho especial por estas gentes. Obriga-me a dois meses de intensa actividade. Contratações em Dezembro e organização do(s) Festival(ais) em Janeiro. A adrenalina mantém-se alta, dá-me uma satisfação enorme, apesar deste ano ser um pouco demais. Sabe, não delego e passa-me TUDO pela mão, de A a Z! Mas quem corre por gosto não cansa…

    Sente que essa ‘repetição’ é também o voto de confiança pelo trabalho desenvolvido nas últimas temporadas, quer por parte das entidades autárquicas (Câmara e Junta) mas também dos aficionados que ali todos os anos marcam presença?
    JG: Sim, naturalmente, os responsáveis autárquicos e o Abrigo Infantil (proprietária da Praça de Toiros de Mourão) confiam em mim. Mas separo a Câmara e a Junta dos aficionados, são duas coisas diferentes. O facto dos aficionados terem, por assim dizer, aumentado o gosto por ir a Mourão enche-me de satisfação. Passar de casa composta sem lugares marcados com toda a gente à larga, para 'esgotado' com todos os lugares marcados, foi fantástico.

    E como lhe surgiu a ideia de este ano, em vez de um, serem dois Festivais?
    JG: Sugeri às entidades autárquicas e Abrigo Infantil que, sendo dia 1 uma segunda-feira, deveríamos mudar para Domingo, 31 de Janeiro. A reacção foi totalmente negativa. Foi então que me ocorreu: está bem, então não mudamos, mas acrescentamos! Ficaram um pouco espantados, mas vinquei que seria bom para a vila de Mourão e acederam. A partir de aí tem havido uma sintonia estupenda entre todos para fazermos um grande fim de semana em Mourão.
    Francamente, não me apetecia baixar a fasquia em relação aos dois últimos anos de casa esgotada, quero manter esse élan. Pensei que fazendo apenas na segunda-feira não teria a praça cheia. E com um grande cartel como o de Domingo, só mesmo cheia é que me “safo” do prejuízo.


    Mas tendo a Festa de Mourão, em honra da padroeira local, dias marcados (1, 2 e 3 de Fevereiro), e ditando a tradição que o Festival aconteça sempre no primeiro deles, que feedback tem sentido por parte dos mouranenses? Estão a digerir bem a ideia de dois Festivais ao invés de um só?
    JG: Patrícia, este ano as Festas começam logo na sexta-feira, dia 29. E a tradição do Festival a dia 1 não é uma tradição muito antiga, só desde os anos 90. O que é antigo, é no dia 1 serem umas vacas e um toiro para curiosos, isso sim tem tradição, agora o Festival formal ou como dizem a Tourada, não tem assim tantos anos. Se por hipótese, se fizesse o Festival formal no fim-de-semana antes ou depois, conforme a proximidade com o dia 2 que é o dia da Senhora das Candeias, manter-se-ia sempre o dia 1 com a vacada e o toiro para curiosos. Esta é a minha opinião apenas. Aliás, os mouranenses devem decidir se no futuro querem o Festival no dia 1 porque sim, ou se preferem ver a praça cheia todos os anos. Há tanta Festa por esta Península Ibérica com datas móveis para as corridas, que não sei porque não poderá ser em Mourão.

    O Festival Taurino em Mourão sempre se distinguiu por dois factores: apostar no Toureio a Pé e apostar na Juventude. Este ano, isso é por demais notório! O primeiro Festival (dia 31 de Janeiro) é um hino ao toureio a pé…e tanto num como noutro, mas de forma integral no de dia 1 de Fevereiro, constata-se a presença de artistas jovens. É também baseado nestes dois factores que os monta?
    JG: Sem dúvida. Tive essa ideia sempre presente, procurei equilibrar os cartéis. Repare que no primeiro dia (dia 31) temos só veteranos, com excepção do Manuel Dias Gomes, e no segundo dia (dia 1) temos só juventude. No primeiro dia, o do toureio a pé, temos como matadores um português e todos os outros espanhóis e no segundo dia temos um espanhol e todos os outros portugueses.


    "Quando se noticiou a impossibilidade do Paco Ureña estar, fui “atacado” por vários representantes de toureiros de categoria"

    Uma das maiores dificuldades que sente quando toca a escolher as ‘Figuras’ é o facto de por esta altura se encontrarem muitos toureiros espanhóis nas feiras taurinas sul americanas… Gostava de poder trazer a Mourão outras Figuras ou estão as que devem estar?
    JG: Em Mourão estão as figuras que devem estar, nem mais nem menos....

    O Festival Taurino de Mourão tem vindo a ganhar crédito, quiçá junto de alguns toureiros espanhóis consagrados... Será que alguns deles já manifestaram intenção de algum dia poderem tourear naquela praça alentejana?
    JG: Bom, não devemos exagerar! Vamos com calma solidificando o prestígio do Festival de Mourão. Roma e Pavia não se fizeram num dia! Agora, também é verdade que quando se noticiou a impossibilidade do Paco Ureña estar, fui “atacado” por vários representantes de toureiros de categoria. É bom sinal e anima-me a continuar.

    Falemos dos cartéis. Para além das Figuras espanholas que dispensam apresentações, contamos em cada cartel com um Matador de Toiros português, o Manuel Dias Gomes (dia 31) e o Paco Velásquez (dia 1). Isto para além de um incentivo é para ser levado como exemplo noutras organizações que se sigam noutras praças, para que não só apostem nos festejos mistos como no valor nacional?
    JG: A verdade é que sempre gostei de cartéis mistos, mas não pretendo dar exemplo a ninguém, cada praça tem as suas características e condicionantes. O Manuel Dias Gomes é o mais novo matador português e merece todas as oportunidades não por ser português, mas porque está um senhor toureiro. O Paco Velásquez tirou a alternativa no México, mas está pouco visto em Portugal. Tem em Mourão uma excelente oportunidade para demonstrar o seu valor e arte.

    Mas se me permite, e porque hoje em dia muito se passa deste ‘mundillo’ nas redes sociais, já tenho lido quem critique que se dá mais lugar nos cartéis aos matadores espanhóis (4) do que aos matadores portugueses (2). Que validade dá a este tipo de comentário? Acha que um matador figura espanhol e quatro matadores portugueses no cartel teria o mesmo impacto?
    JG: Não dou nenhuma importância a esse tipo de comentário, será sempre impossível fazer o pleno e agradar a todos. Mas sempre lhe digo, que a arte do toureio não tem fronteiras, aliás nenhuma arte tem fronteiras. É pacífico aceitarmos que Espanha é o país do toureio apeado, também me parece que devia ser pacífico que, num cartel que se quer privilegiar o toureio a pé, haja mais espanhóis. Mas atenção, o meu objectivo visa sempre a qualidade, se um dia houver um naipe de matadores portugueses de qualidade, não terei pejo nenhum em colocá-los em maioria no cartel. Mas sublinho, Mourão não é nenhuma afirmação de lusitanidade ou portugalidade, mas sim um hino ao toureio a pé.



    Teremos também presentes no Festival de dia 1, dois jovens toureiros: um novilheiro espanhol que privilegia de destaque na Extremadura, o Juan Carlos Carballo e a novilheira portuguesa, Paula Santos, da Escola de Toureio da Moita, que tem dado nas vistas. Mourão com toureio no feminino, mais uma vez aqui uma aposta interessante…
    JG: A Paula Santos vem a Mourão, não por ser mulher, mas sim porque onde tem toureado tem demonstrado valor e qualidade para estar num certame deste tipo. Em suma, porque toureia bem. O Carballo é um novilheiro numa fase muito interessante e creio que vai agradar ao publico português e aos muitos espanhóis que virão vê-lo.

    A nível de toureio equestre, temos a figura consagrada a dia 31, o Rui Fernandes, e os três jovens no dia 1, António Brito Paes, o Francisco Palha e o João Salgueiro da Costa. O que espera de cada um?
    JG: O Rui Fernandes é tão só, o cavaleiro português com maior sucesso em Espanha. Presente nas grandes feiras do país vizinho, não deixa ninguém indiferente, é irreverente e os anos que leva no topo dizem tudo. Com as figuras a pé só podia estar uma figura a cavalo. Remata magnificamente o grande cartel de 31. O António Maria Brito Paes tem evoluído a olhos vistos, sendo um clássico é ousado e dá-nos uma garantia de tourear como se deve tourear a cavalo.
    O Francisco Palha concilia o classicismo português das suas origens, com alguma influência de Espanha. Parece-me que a qualquer momento pode explodir. O João Salgueiro da Costa tem personalidade por todos os poros. É o mais novo da mais antiga dinastia de cavaleiros portugueses e tem actuações verdadeiramente portentosas, tem o génio dos Salgueiros. Se conseguir uma regularidade que por vezes lhe foge, será um caso sério do toureio a cavalo.

    Para as pegas, soube conciliar a proximidade com a referência, levando um Grupo próximo de Mourão, o de Monsaraz, com o mais antigo Grupo de Forcados, os de Santarém, onde para mais o Dr. Joaquim Grave também foi forcado. Aqui também um motivo especial para si, uma organização sua, a primeira do ano e o Grupo do seu coração a pegar…
    JG: Não nego que o Grupo de Santarém me toca de forma especial. Estava para vir o ano passado no ano do centenário mas por razões que não são para aqui chamadas, não foi possível. É uma referência da forcadagem portuguesa. O Grupo de Monsaraz tem vindo a afirmar-se como um dos melhores da região e justifica plenamente fazer parte do cartel do dia 1 de Fevereiro.


    Este ano, teremos no primeiro festival novilhos da sua ganadaria, Murteira Grave, e no segundo, reses de António Raúl Brito Paes, Falé Filipe e Joaquim Brito Paes (lides a cavalo), e Passanha Sobral e novamente Murteira Grave (a pé). Sendo que dos novilhos dos outros não poderá ter muito para falar, que podemos pelo menos esperar dos ‘graves’ para Mourão? Em tipo e comportamento?
    JG: Os novilhos são cómodos de cara para as figuras e procurei que estivessem no tamanho certo. Sem dúvida que o leque de figuras obriga a uma atenção especial, por uma razão muito simples: se os novilhos forem mais parecidos com toiros de grande volume e cara, os toureiros simplesmente não vem. O toureio a pé em Portugal deve ser acarinhado, tendo em conta que não há sorte de varas. Às vezes parece que se esquecem disso. Desenganem-se aqueles que esperam ver novilhos enormes e com cara em Mourão. Em comportamento espero que sejam bravos e humilhem com transmissão e classe na muleta.

    Atendendo à procura de bilhetes, é caso para esperarmos duas casas esgotadas?
    JG: Se não chover, e atendendo à procura de bilhetes, teremos duas boas casas com possibilidade de esgotar um dos dias.

    Dr. Joaquim Grave, no próximo ano, 2017, o dia 1 de Fevereiro será uma quarta-feira… Poderemos contar com a II Feira Taurina da Sra das Candeias em Mourão aumentada? Três Festivais era boa ideia...
    JG: Não, temos que ter a noção dos limites, três Festivais é incomportável em Mourão. Mais do que no dia 1, centro-me no dia 2 que é o dia da Sr.ª das Candeias. E sendo o dia 2 uma quinta-feira, parece-me que o dia 4 é um Sábado…


    (Nota: no Festival de dia 31, Paco Ureña será substituído por Juan Bautista)






    Fotografias: Florindo Piteira/Patrícia Sardinha/Pedro Batalha
    Texto: Patrícia Sardinha