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    Crónica do Colete Encarnado: "“Arenita en los Ojos”"

    Escrevo o título desta crónica em castelhano pois afinal a mesma se dedica a uma corrida na ‘Sevilha Portuguesa’; mas também porque até as cortesias se viveram meio à portuguesa meio à espanhola (já explicarei mais adiante); e porque o vento marcou presença toda a corrida, condicionando as actuações e levantando areia, o que por vezes se tornava incómodo.
    Anunciava-se como a ‘Corrida do Ano’, um “mano-a-mano” entre um cavaleiro e um matador de toiros, e teve muito de evento social com meio mundo dos toiros presente para assistir ao ‘regresso’ de Pedrito de Portugal às arenas e a Vila Franca.
    E a vontade de regressar e de marcar a diferença de Pedrito era tanta, que no momento de fazer o paseíllo, ele e a respectiva quadrilha, fizeram-na como é normal nas corridas a pé em Espanha. Entrou na arena, atravessou o albero, saudou o director de corrida e pôs-se na trincheira. E depois lá apareceu do pátio de quadrilhas o cavaleiro António Telles, que assim cumpriu com as cortesias a como estamos habituados em Portugal, sejam elas só de cavaleiros ou mistas… Se isto foi previsto ou não, não sei! Dizem que há 50 anos atrás, Manuel dos Santos o fizera uma vez a Branco Núncio. Não vi, não estou habituada e eu pelo menos estranhei… Mas foi o que se chama de ‘2 em 1’…
    O primeiro toiro a sair nesta tarde à praça, foi um imponente de António Charrua, com 580 kg, alto, badanudo, composto de carnes e que foi de grandes condições, arrancando-se por várias vezes ao cite do cavaleiro. Já António Telles foi infeliz nos compridos mas deu a volta por cima sendo eficaz nos curtos, melhores o segundo e terceiro da ordem, sendo ainda exímio na brega como sempre, com uma actuação a gosto dos vilafranquenses que tanto o souberam assobiar como aplaudir de pé.
    No segundo do seu lote, outro ‘charrua’, mais avacado de tipo, com 515 kg, que teve menos transmissão mas ainda assim com condições de lide, António andou mais assertivo nos compridos. Nos curtos, voltou a demonstrar eficiência na brega, muito criterioso na selecção de terrenos, resultando a actuação mais regular, com alguns ferros de registo e como mandam as regras, obtendo assim a aprovação dos presentes.
    O quinto toiro da corrida, terceiro do lote de António Telles, também da ganadaria António Charrua, foi cumpridor em apresentação com 540 kg, perseguia com raça mas adiantava-se uma barbaridade, o que levou a alguns toques nas montadas do cavaleiro. António andou aliás mais intermitente nesta lide apesar da sua disposição toureira, entre um curto falhado, algumas passagens em falso, e salvando-se alguns ferros de eficiente colocação.
    Mas esta foi uma actuação marcada essencialmente por episódios ‘invulgares’. Contrariamente ao que muitas vezes se vê noutras praças, na Palha Blanco pouco se consente a presença dos peões de brega na arena, e ‘Curro’, às ordens de António, que o diga, que por várias vezes viu o público meter-se com ele mas também o próprio cavaleiro a exigir-lhe que se recolhesse em tábuas. O que levou depois a um gesto por parte de António a chamá-lo e a resolverem tudo com um aperto de mãos. Por duas vezes achou o director corrida que deveria haver música nesta lide, ao que o público, e até o próprio cavaleiro, vendo a instabilidade da actuação, exigiram, por duas vezes, que a Banda do Ateneu parasse de tocar! E como se não bastasse a areia que o vento levantava, houve ainda espaço para que uma ferradura de uma das montadas de António Telles, também se ‘levantasse’ e saltasse para o sector 3…vá lá sem consequências. Ficou o susto!
    Tarde muito positiva para os Forcados Amadores de Vila Franca com três pegas ao primeiro intento.
    Rui Godinho viu o seu toiro arrancar-se com alegria, reuniu com decisão e pronto encontrou o Grupo, que foi eficaz na ajuda.
    Ricardo Patusco viu o toiro arrancar-se sem maldade, consumando sem problemas e numa pega que pareceu fácil.
    Pedro Castelo efectivou uma pega rija com um toiro que se arrancou pronto e novamente o Grupo coeso a consumar.
    No que ao Toureio a Pé diz respeito, tarde muito marcada pelo incómodo vento mas também pelo jogo dos Falé Filipe que nem sempre permitiram luzimento a Pedrito de Portugal.
    Frente ao primeiro, animal com alguma presença e 495 kg, Pedrito mal se viu de capote (aliás uma constante nas suas três actuações). Nas bandarilhas, destacaram Joaquim Oliveira e Fábio Machado que saudaram. De muleta, e aproveitando as condições nobres da rês, que se deixou, sendo fácil e investiu sempre por onde lhe ‘mandaram’, Pedrito de Portugal nunca lhe baixou muito a mão, e oscilou entre tandas de fazer recordar a disposição de um menino que quis ser toureiro e outras de menor transmissão. Ainda assim, uma faena bem conseguida do toureiro.
    Frente ao segundo do seu lote, um ‘falé’ negro listón, com 460 kg, Pedrito quis mostrar disposição ao apresentar-se a ele de capote com os joelhos na arena e por aí se ficou. Nas bandarilhas, cumpriram Pedro Gonçalves e Fábio Machado. O toiro, que foi todo o inverso do anterior, com génio, 'esperto' e de olhos postos no toureiro, ao vê-lo destapado pelo vento, levantou-o ao ar e pô-lo no chão. Depois disto, abreviou Pedrito.
    No que fechou corrida, animal mais pequenote de tipo, com 450 kg, manso reservado e justo de forças, voltou a exibir-se pouco com o capote o matador de toiros português. Nas bandarilhas, Cláudio Miguel a brilhar por duas vezes. Levantou-se por esta altura mais vento, e assim dificuldade acrescida ao toureio de Pedrito, que nunca encontrou sítio, praticamente correu todos os terrenos da praça com um toureio de pouca ligação e ‘fijeza’, vendo-se alguns pormenores mais eficientes para o final da faena. Um ‘regresso’ com pouco para se poder desfrutar.
    Corrida do Ano? Competição de um ‘mano-a-mano’? Diz que tinha renascido o Toureio a Pé em Portugal há umas semanas atrás…? Às vezes é só areia… E foi pena, nem sempre a expectativa é correspondida.

    Mas se há registo positivo que se traz desta tarde em Vila Franca, foi o de se ver a bonita Palha Blanco composta de gente. Pouco faltaria para esgotar. Dá gosto ver uma praça assim, e mais ainda a de Vila Franca. Sempre única! Sempre diferente!