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    Crónica Campo Pequeno: "Quem te nega que és Toureiro?"


    A fama já o precede. Mal tinha dado início à segunda pega da noite, foram muitos os que logo começaram a recordar e a partilhar outras pegas de sua autoria, principalmente uma realizada na Chamusca, não antevendo estes que, minutos depois, ganhariam mais uma pega para a colecção do ‘A recordar’.

    Marcelo Lóia, cabo dos Amadores do Barrete Verde de Alcochete, honrou ontem à noite na Praça de Toiros do Campo Pequeno esse símbolo português que é o Forcado Amador, mas honrou acima de tudo a Verdade e a Emoção que carrega a Tauromaquia.
    E ser Forcado será também ser Toureiro? Isso a Marcelo Lóia ninguém o pode negar! Olé!

    Aquilo que lhe vimos fazer ontem à noite, foi todo um hino à arte de pegar toiros. Citou calmo, com classe, esperou, recuou e fechou-se de alma e coração à barbela, aguentando o toiro como uma lapa. E o Grupo não lhe faltou, a querer, a tentar ajudar mas a ser despejado dada a violência dos derrotes…e Lóia lá, mostrando como se faz! Mostrando o que é ser Forcado, um grande forcado, e um exemplo de cabo. Levantou praça, deu duas voltas e não lhe vimos a Porta Grande. Faltou-lhe provavelmente ter dado mais uma volta, faltou-lhe provavelmente o conhecimento do público para que o soubesse ‘brindar’ com isso, faltou-lhe quase de certeza, a sensibilidade de quem, há quinze dias, rejubilava e saltava para destrancar o mais depressa possível a Porta a um matador. Este era forcado…se calhar foi isso!

    Mas a noite no que toca a pegas não se ficou por Marcelo Lóia. A noite foi de Alcochete e o Grupo bisou novamente no triunfo ao quinto toiro da corrida, por intermédio de Daniel Santiago, com mais uma enorme pega. Citou alegre, decidido e fechou-se à córnea, consumando assim mais uma pega de levantar gente dos assentos, vibrante, emotiva e rija! Também ele merecedor de duas voltas.

    A quem também não se pode negar que é um senhor toureiro é a Luís Rouxinol. Vinte e oito anos de alternativa, cerca de cinquenta corridas por temporada nos últimos anos, o toiro número 2100 da sua carreira, e mesmo assim, pese embora todo o cansaço, que obviamente possa padecer, está aí para as curvas, mantendo uma regularidade única nas suas actuações. Pela frente teve matéria para triunfo, um toiro sério, nobre, cómodo de investida, sendo colaborante e permitindo-se aos ladeios e recortes que o cavaleiro lhe impingiu. E Rouxinol em Lisboa fez o que lhe pediram e compete fazer, lidou, bregou, deixou a ferragem com correcção, não descurou os remates, andando muito confiante e metido com as bancadas. E nem o abrir praça, nem a ‘frescura’ dos alternantes lhe fizeram qualquer moléstia. Não foi por acaso que foi o único cavaleiro a quem nesta corrida lhe foi concedida música logo após o primeiro curto. Venceu com justiça o prémio para a melhor lide da noite.

    Tudo o resto, viu-se pela televisão...e poderia resumir-se a pouca coisa.

    Até porque está tudo agora muito espantado que os mais “novos” não se arrimam, não dão cartas, não se impõem, que foram ao Campo Pequeno e desperdiçaram oportunidades… Mas não é isto que têm feito sempre?! Só porque deu na televisão, descobriram a pólvora? Ontem foi mais um capítulo da Festa que temos nos últimos anos: comodismo, irregularidade e claro, a culpabilizarem os toiros.

    Que eles (os jovens) não vão com vontade? Vão!

    Que não se entregam? Entregam!

    Mas depois falta tudo o resto: o entendimento do toiro; que lidar não é só deixar os ferros; o ir à cara do toiro; medir as distâncias; cravar ao estribo; rematar as sortes, enfim, saberem que o toureio a cavalo (até) tem regras…

    Sónia Matias andou voluntariosa frente a um toiro que de início se mostrou distraído mas que quando ‘acordou’ ao primeiro comprido revelou algum génio. Gilberto teve prestação disposta mas sem romper, prejudicada por alguns toques, frente a um toiro codicioso na perseguição e que punha a cara alta nas reuniões; Filipe Gonçalves andou de menos a mais, insistindo nos quiebros, nem sempre bem concretizados, frente a um toiro tardo mas que perseguia voluntarioso; Francisco Palha ainda quase que beliscou uma actuação bem conseguida, com sortes bem desenhadas, frente a um toiro nobre que custava a fixar, andando por vezes a passo e apertando nas reuniões, mas a lide acabou por vir a menos sofrendo alguns toques no final da lide; Salgueiro da Costa andou intermitente, frente a um toiro reservado, ficando-se por alguns pormenores de um toureiro que urge ‘despertar’ de uma vez por todas.

    E resumindo: marcaram todos ‘passo’ atrás de Luís Rouxinol!

    E os toiros? De apresentação foram no geral bastos, ligeiramente montados, sem excessos de carnes e em comportamento… um curro desaproveitado! Gostava eu que estes toiros também tivessem saído há 15 dias atrás, e há um mês atrás e por aí fora... E provavelmente, muitos dos cavaleiros de ontem, preferiam que os toiros dessas outras corridas anteriores lhes tivessem tocado ontem a eles... É que estes, diz que foram 'brutos' e não se quer cá disso! Toiros que pediam que lhes dessem lide, foi o que eles foram, e excepto o mais reservado sexto, todos os outros toiros foram de boa nota.

    Salientar ainda que nalgumas lides, foi por demais a intervenção dos peões de brega... Há toiros que se acabam de tanto capotazo… E as mais de 3h de espectáculo? Pois…também nós nos acabamos!

    No que toca às restantes pegas, passagens mais discretas dos outros dois Grupos presentes, com algumas falhas técnicas no momento das reuniões, outros porque os toiros derrotavam muito e não se aguentaram de braços e também algumas ajudas deficientes.

    Pelos Amadores de Montijo, João Damásio concretizou à segunda tentativa; e Hélio Lopes à terceira. 

    Pelos do Aposento da Chamusca, Francisco Montoya consumou à quarta; e João Saraiva, à segunda.

    Dirigiu a corrida o sr. Tiago Tavares assessorado pelo veterinário Jorge Moreira da Silva numa corrida com menos de ¾ de casa, de um público festivo e de onde então saíram triunfadores Luís Rouxinol e Marcelo Lóia.