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    Reportagem da Corrida de Toiros do Correio da Manhã

    Campo Pequeno, 15 de Julho de 2010

    Fotografia:
    Por Pedro Batalha





    Crónica:
    Por Patrícia Sardinha

    ABRE-TE SÉSAMO

    Em Portugal, o impedimento da corrida integral, acarreta mais complicações do que aquelas que se pensaria e não havendo a concessão de troféus, torna-se injusto e complicado, diferenciar as actuações entre os artistas. Assim, é rotineiro ouvirem-se as palminhas do público, verem-se as voluntariosas voltas à arena e vá, uma vez por outra, também vimos alguns ficarem quietos nas tábuas, mas só quando o bom senso realmente impera.

    A única Praça de Toiros em Portugal, onde se preconiza alguma distinção entre as actuações, é na do Campo Pequeno, com a sua emblemática Porta Grande. A saída em ombros por esta Porta, é o galardão máximo que um toureiro pode receber em Lisboa e portanto, deveria a sua passagem ser regida por uma exigência e castidade só digna de eleitos.

    Muita tinta já se escreveu noutras temporadas sobre os critérios de quem passava ou não passava pela Porta, levando a que a empresa, o ano passado, criasse um regulamento interno sobre a sua abertura e que tem por base o número de voltas que os intervenientes têm que dar à arena de modo a conseguirem o brinde. No entanto, com os tempos que correm, para se abrir a Porta Grande quase que basta dizer uma palavra-chave, estilo “Abre-te Sésamo”, neste caso em concreto, juntar os ingredientes certos: cavalos-artistas, toiros comodistas, público das palminhas e alguma audácia dos toureiros para se fazerem às voltas, ah e claro, saber fazer contas para as ir somando.

    Na passada quinta-feira, a Porta Grande do Campo Pequeno voltou a abrir pela segunda vez este ano. Se foi justo ou injusto? Depende. As voltas foram realmente exigidas pelo público (escrevi exigidas e não merecidas), o rejoneador não se fez rogado delas, a empresa limitou-se a cumprir o regulamento, mas…onde entra a exigência? O rigor? O peso de se cruzar a Porta?

    A Praça encheu, esgotou mesmo segundo a faixa na entrada e ainda bem, pois assim foram muitos os que puderam ver finalmente, o verdadeiro conceito do toureio a cavalo à portuguesa e o rejoneio no seu estado mais casto. Antes das cortesias, um minuto de silêncio pela memória do ganadeiro Ruy Gonçalves e do bandarilheiro e director de corridas Rogério Valgode, recentemente falecidos.

    Os toiros de Passanha surpreenderam por não terem sido os habituais animais imóveis, tendo-se deixado lidar no geral ainda que cómodos, mas pecaram pela escassez de apresentação, escorridos de carne, alguns com ar anovilhado ainda que com quatro anos cumpridos. É difícil adivinhar bravura numa rês, mas pelo menos em termos de apresentação o descuro podia ser escusado.

    António Ribeiro Telles é a personificação daquilo que o Toureio a Cavalo à Portuguesa pode englobar. A classe, a frontalidade, a sensatez, a verdade…está tudo lá. Mas o que interessa isso hoje em dia? Falta-lhe animação, espectacularidade, enganos, malabarismos…e isso António não faz. E digo eu, que ainda bem. Nesta noite, o cavaleiro da Torrinha teve a tarefa difícil de abrir praça frente a um toiro com 500 kg, rematado de apresentação, a quem deixou regular a ferragem comprida. Nos curtos, deu toda uma lição do seu toureio frontal, pensado, escolhendo os terrenos e empolgando quando momentos antes da reunião saca as mãos das rédeas e crava o ferro. No seu segundo, com 554 kg, que saiu bem mas foi mais complicado, adiantando-se à montada, António construiu uma lide de menos a mais, com muito labor para estar por cima do toiro e deixar no sítio a ferragem, destacando-se os três últimos curtos que deixou, simplesmente brilhantes. Quase que deu duas voltas depois desta actuação, mas ao ver a indecisão do público, António no seu bom senso recuou, coisa rara noutros toureiros que até pelo próprio ar que expiram se deixariam levar em voltas à arena.

    Pablo Hermoso de Mendoza, está para o Rejoneio como o António para o Toureio a Cavalo ‘à moda lusitana’, sem cair nos exageros, nem em números circenses, tem toda uma classe, que nem vinte de outro(s) juntos a conseguiriam bater. No seu primeiro toiro, com 534 kg, feio de cara, sem morrilho, foi pouco a pouco sacando do seu estilo toureiro, cravando com acerto, exibindo-se nas preparações e nos remates das sortes, com os recortes e ladeios, que caracterizam o rejoneio. Entusiasmou bancadas e foi premiado com duas voltas. No seu segundo, voltou a demonstrar um conceito do rejoneio no seu estado mais puro, frente a uma rês com 538 kg. No entanto, e na minha opinião, não foi uma actuação tão bem conseguida, abrindo cedo as sortes e com reuniões desajustadas. Mas ao público interessavam os adornos, a espectacularidade dos remates e…mais duas voltas. Abre-te Sésamo!

    João Telles Jr é dos jovens que mais certeza poderá ter numa carreira de cavaleiro. No entanto, defraudou desta vez no Campo Pequeno. Talvez o peso da responsabilidade tivesse sido demasiado, se bem que já tem tarimba o suficiente para se aguentar com isso, ou então simplesmente faltou-lhe cabeça naquela noite. Primeiro frente a um toiro com 516 kg, cedo evidenciou essa carência de sensatez quando falha o primeiro comprido. Nos curtos, insistiu em pequenas inflexões, que depois o faziam abrir demasiado a sorte e os ferros resultavam passados. No que encerrou a noite, com 532 kg, paradote, enquerenciado, João Telles Jr quis mostrar superioridade, mas sem grande sucesso. Deixou-se tocar algumas vezes, mas uns quantos ferros passados e depois o exagero de querer deixar um par de bandarilhas, que acabou por repetir três vezes e cujo resultado borrou mais a pintura. No final e em consciência abdicou da volta.

    Nas pegas também a noite confrontava dois grupos, os de Santarém e os de Lisboa e os dois grupos saíram em grande do Campo Pequeno, não só pelo desempenho dos forcados das caras, mas principalmente pelo trabalho do grupo que corrigiu algumas reuniões menos perfeitas. Pelos Amadores de Santarém pegaram, Joaquim Pedro Torres muito bem e sem problemas à primeira tentativa; Gonçalo Veloso também à primeira, ficando cimentado na cara do toiro com uma perna por cima do piton; e António Grave de Jesus que, depois de duas tentativas a ir muito acima do toiro sem recuar, caiu mal, indo para a enfermaria, sendo dobrado por João Vaz Freire que também só consumou ao segundo intento com as ajudas carregadas. Pelo grupo de Lisboa, pegou Gonçalo Maria Gomes que ficou à primeira, com o toiro ainda a baixar a cara, mas depois sem grandes complicações; Pedro Miranda também à primeira a aguentar e o grupo a sustê-lo na cara do toiro; e Manuel Guerreiro à segunda tentativa a aguentar bem, depois de no primeiro intento ter desfeito a pega com o toiro a ensarilhar um bocado.

    Dirigiu com acerto o sr. António Garçoa, assessorado pelo veterinário José Maria Nobre, numa noite em que a Porta Grande voltou a abrir. Se é a empresa que tem que intervir, se são os artistas que têm que ser mais ponderados nas voltas, ou se é o público que tem que ser mais exigente na concessão de palmas, isso não sei. Mas tanto mereceu Pablo a abertura desta Porta como outros anteriormente já a mereceram…agora, se calhar o melhor, era mudar-se a palavra mágica. Pode ser que assim não se abra tantas vezes e haja mais rigor e critério naquela que se diz a maior Porta, mas que por ser tão fácil, se torna pequena e todos lá cabem.


    Vídeo Resumo da Corrida
    Cortesia: Rádio Elvas